Passat: um VW a mais de 160 km/h

Revista Quatro Rodas nº 159 – Outubro de 1973
Reportagem de Nilo Martins, Auto Motor und Sport e Nehemias Vassão
Fotos de Nilo Martins e Claudio Larangeira

Testamos na Alemanha e fotografamos no Brasil – quase pronto para ser lançado em maio – o primeiro Volks nacional refrigerado a água.

A revelação feita por Quatro Rodas (na edição de julho de 1973, nº 156) de que a Volkswagen lançaria o Passat no Brasil foi agora confirmada por Rudolf Leiding, na Alemanha, já se sabendo a data: maio de 1974. Quatro Rodas, além de conseguir fotografar o protótipo do novo carro refrigerado a água nos seus testes finais no Brasil — para que ele possa ser lançado em maio —, ainda o testou na Alemanha. Assim, informamos o que se pode esperar desse carro, cuja versão brasileira deverá ser a solução para o problema criado pelo insucesso do TL, cujas vendas caíram de 40.445 unidades em 1971, ano em que foi lançado, para 21.960 em 1972. E, no primeiro semestre deste ano, a VW só conseguiu vender 11.620 unidades, enquanto vendeu 13.428 no mesmo período do ano passado.

Como tentará reconquistar o mercado perdido pelo TL, o Passat brasileiro deverá situar-se na mesma faixa de preço do TL de quatro portas estânder, que atualmente custa Cr$ 23.570,00. Nessa faixa, estão o Corcel e o Dodge 1.800, que serão, assim, os concorrentes diretos do Passat.

Tudo isso mostra a maleabilidade da atual política de produção da Volkswagen, que permite adaptar sua programação às circunstâncias do mercado. Um bom exemplo dessa política foi o lançamento do Brasília, solução encontrada pela Volks para se fortalecer na faixa em que entraria o Chevette e garantir sua fatia do mercado. Reforçando o predomínio dessa política, há ainda a promessa de Rudolf Leiding, ao assumir a presidência mundial da empresa: um novo lançamento a cada seis meses.

Os três novos carros que a Volkswagen da Alemanha lançou — o Passat, o Passat LS e o Passat TS — são, de certa forma, a antítese da imagem mais tradicional da marca. A grande fábrica de Wolfsburg sempre defendeu com empenho as soluções mecânicas básicas que adotava no Fusca: refrigeração a ar, motor e tração traseiros, suspensão por barras de torção e bloco horizontal de cilindros opostos.

Mas seus novos carros, que derivam do Audi (após a incorporação dessa fábrica à Volkswagen), empregam soluções mecânicas exatamente opostas: refrigeração à água, motor e tração dianteiros, suspensão por molas helicoidais e bloco de quatro cilindros em linha. É, portanto, uma imagem inteiramente nova, que começa a se formar e que, no Brasil, terá no Passat o seu primeiro teste. E este é o primeiro teste do Passat publicado no Brasil.

Os novos Volkswagen alemães (lançados com duas e quatro portas e como perua) têm a mesma concepção, mas se apresentam com três conjuntos mecânicos diversos, para desenvolverem desempenhos diferentes. O modelo mais barato é o Passat com motor de um litro, que é equipado com motor de 55 HP (DIN) na Alemanha ou 60 HP (DIN) para exportação. Seu motor desloca apenas 1.3 litro e o conjunto mecânico é semelhante ao do Audi 80, que há um ano é oferecido aos compradores alemães.

Esteticamente, o Passat difere dos outros modelos da linha por seus faróis redondos e por ter poucos frisos cromados no exterior. Seu interior também é mais simples do que o dos carros mais sofisticados da linha. Custa 8.500 marcos (Cr$ 21.590,00) na fábrica. Com cerca de 500 marcos a mais (Cr$ 2.700,00), pode-se acrescentar ao modelo básico mais frisos cromados externos, relógio elétrico, odômetro, acendedor de cigarros, tapetes, tampão de gasolina com chave e outros pequenos detalhes. Equipado assim, ele recebe o nome de Passat L e é vendido nestas versões: sedã duas portas, quatro portas ou perua.

O Passat LS

Basicamente, a concepção de todos os motores é a mesma: quatro cilindros em linha, refrigeração a água, comando no cabeçote e colocação dianteira (à frente do eixo dianteiro). Mas no modelo LS, a cilindrada foi aumentada: os cilindros passaram a ter 76.5 mm de diâmetro e os pistões, 80 mm de curso. Assim, os 1.300 cc foram aumentados para 1.470 cc ou, em números redondos, 1.5 litro.

Note-se que esse motor deixa de ser superquadrado (diâmetro maior do que o curso), condição considerada até há não muito tempo como fundamental para os motores modernos de alto rendimento. Dessa forma, sua potência chega aos 75 HP (DIN), e o carro fica bem mais veloz e com melhor aceleração.

As diferenças estéticas são poucas: enquanto o Passat tem dois faróis redondos, o Passat LS tem dois faróis retangulares. E é mais bem dotado de acessórios. Pode-se também comprar o Passat LS com uma série de equipamentos opcionais, inclusive o motor mais potente do modelo seguinte da série, o TS, por apenas 200 marcos a mais (cerca de Cr$ 500,00).

Não foi possível fazer no LS todas as medições de desempenho de um teste completo. Entretanto, com os dados completos do Passat e do Passat TS, que são respectivamente o mais simples e o mais sofisticado da série, pode-se concluir que o LS fica entre os dois, mais próximo do TS.

TS, o mais caro

Sempre com as mesmas características básicas e podendo ser adquirido em versão de duas ou de quatro portas, o mais caro da série é o modelo TS que, tendo o motor com as mesmas características que o do LS — de 1.470 cc —, desenvolve porém 85 HP (DIN) em consequência de uma elaboração mais perfeita, que resulta em eficiência maior. Para todos os modelos equipados com motor de 1.470 cc, é possível instalar transmissão automática opcional, com três velocidades.

Estética e concepção mecânica

A Volkswagen recorreu ao estilista Giorgetto Giugiaro a fim de garantir para seus novos modelos um toque de elegância indispensável ao sucesso. Ele escolheu a forma fastback para a traseira, a fim de manter a solução estética que os carros da marca vêm usando.

Assim, o compartimento traseiro reservado à bagagem é amplo e a grande janela traseira permite boa visibilidade. Os faróis podem ser redondos, retangulares ou duplos, e há várias opções de equipamentos para todos os modelos.

A concepção mecânica é das mais atualizadas. A suspensão dianteira usa molas helicoidais e amortecedores helicoidais integrados, como no tipo McPherson. O eixo traseiro é integral e acionado também por molas helicoidais. Tem uma barra estabilizadora transversal.

A construção da carroceria é integral, com a “caixa” protetora dos passageiros reforçada. Ela dispõe de um bom sistema de aeração interna, com saídas traseiras. Mas, curiosamente, não foram dispensados os quebra-ventos, talvez para não desagradar os compradores mais conservadores.

Os freios dianteiros são a disco e os traseiros a tambor, acionados por dois circuitos hidráulicos em diagonal, independentes.

Internamente

Os volantes dos novos Passat L e LS são convencionais, com a parte central formando um triângulo. Já o TS, mais esportivo, tem um volante de três raios perfurados.

A posição dos instrumentos do painel é funcional, com um grande velocímetro redondo registrando até 190 km/h e, ao seu lado, um mostrador também redondo, contendo indicador de combustível e amperímetro, além das luzes-testemunhas convencionais. Entre esses dois conjuntos situa-se o relógio elétrico ou, no caso do TS, o conta-giros. O TS dispõe também de um console central, onde se localizam mais alguns instrumentos auxiliares. A alavanca de câmbio fica no assoalho, em todos os modelos. Os pedais são suspensos.

Desempenho

O motor é inclinado para um lado e o radiador para outro, e ele anda de forma bem diferente dos Volks que conhecemos, além de ser mais macio.

As diferenças de comportamento entre o L, o LS e o TS são bem características. O LS, em relação ao L, é mais rápido e acelera muito melhor, notando-se o aumento de torque já nas baixas rotações.

Já as diferenças entre o TS e o LS não aparecem muito nos resultados obtidos — pois os dois diferem pouco em velocidade máxima e aceleração —, mas surgem nitidamente na forma como eles se comportam, uma vez que o motor do TS tem características esportivas, de modo a atingir seu máximo torque somente a 4.000 rpm, enquanto o LS já chega a isso a 3.500 rpm.

Num ponto todos os que andaram nos carros novos da VW alemã concordam: eles são muito confortáveis e fáceis de dirigir, tendo um desempenho bastante satisfatório, considerando-se a sua cilindrada. São econômicos, conseguindo percorrer em média mais de 10 quilômetros com um litro de gasolina. Evidentemente, a futura versão brasileira não poderá ter as mesmas taxas elevadas de compressão, já que nossa gasolina é de baixa octanagem. Entretanto, mesmo com uma taxa de compressão menor, dependendo do trabalho da engenharia da Volks do Brasil na adaptação, será possível dar ao Passat nacional excelentes índices de eficiência.