Revista Auto Esporte nº 219 – Fevereiro de 1983
Texto e fotos de Caio Moraes
Apesar de os veículos de quatro portas não serem muito bem aceitos no Brasil, o Del Rey e o Passat LSE são dois médios-pequenos que conciliam perfeitamente luxo e requinte com excelente padrão de economia. Acompanhe o comportamento destas duas ótimas versões.
Com exceção do Landau – cuja única versão era um modelo de quatro portas e mercado muito bem delineado como carro executivo -, o brasileiro sempre se inclinou mais pelo automóvel de duas portas. E deixava, assim, de usufruir das vantagens e racionalidades de utilização oferecidas pelos veículos de quatro portas. A saída de linha do nosso principal modelo executivo – determinada por sucessiva diminuição de vendas e demonstrando claramente a nova tendência do usuário deste segmento – terá como consequência a divisão dessa faixa de consumidores entre os carros médios, como o Alfa-Romeo e o Opala, ou, ainda, os médios pequenos de alto luxo.
Hoje, o Del Rey Ouro e o Passat LSE, os médio-pequenos nacionais de quatro portas mais sofisticados, podem eventualmente substituir os grandes executivos, em certos casos, com algumas vantagens. É claro que suas características e limitações impedem qualquer comparação envolvendo itens como espaço. Porém, quanto ao requinte, acessórios originais encontrados nos médios-pequenos não eram disponíveis nem mesmo no festejado e luxuoso Landau.
Cuidados internos
Em termos de conforto, tanto um como outro se equivalem. São carros que contam originalmente com a maioria dos equipamentos fornecidos como opcionais nos modelos mais simples. Os bancos são extremamente confortáveis, acomodando perfeitamente motorista e passageiros. No Del Rey, a posição de dirigir é mais natural, com o volante na altura e inclinação corretas, além de propiciar visibilidade ampla e total do conjunto de instrumentos e sinalização. No LSE, o novo tecido xadrez adotado no revestimento dos bancos é um dos pontos de destaque da decoração interna. O acesso ao banco traseiro é mais fácil no Del Rey, e o espaço para o passageiro também é melhor. No entanto, o LSE conta com apoio central de braço e encosto de cabeça para os passageiros.
O painel dos dois carros é completo, mas o Del Rey leva vantagem em relação à beleza, localização dos instrumentos e quantidade de informações. No LSE os instrumentos estão divididos parte no próprio painel e pare no console central, criando inconvenientemente dois pontos distintos de informações. No Del Rey, ao sistema de luzes-espia foi incorporada, como requinte adicional, uma luz indicando quando uma das portas não se encontra perfeitamente fechada.

É também o único carro nacional de grande série dotado de bloqueios automáticos para as portas, além de vidros acionados eletricamente – fatores que aumentam a praticidade e conforto. Ambos contam com trava nas portas traseiras, impedindo que elas sejam abertas pelo lado de dentro. Quem tem crianças pequenas sabe da importância desse detalhe. Ainda no item segurança, há um interruptor no conjunto de comando dos vidros elétricos que cancela a atuação dos comandos individuais, garantindo o acionamento somente ao motorista.

Os dois carros possuem controle remoto para regulagem dos espelho retrovisores laterais. Os cintos de segurança retráteis são de três pontos de fixação, só diferindo entre si quanto ao sistema de acionamento. No Del Rey ele é de ação pendular, podendo inclusive ficar ligeiramente frouxo sem incomodar o usuário. No LSE ele é por carretilha e constantemente exerce leve pressão sobre o tórax.
Tanto o LSE como o Del Rey são equipados com sistemas de som estéreo, que incorpora rádio AM/FM e toca-fitas. Convém ressaltar que o Del Rey testado estava equipado com sistema de ar condicionado, que mesmo na versão Ouro – assim como no LSE – é opcional. Ainda como importante opcional, o carro da Ford pode vir equipado com câmbio automático.

Outro detalhe que indica cuidado com o requinte são as luzes de leitura individuais. No LSE elas estão localizadas no compartimento traseiro, enquanto no Del Rey estão também na parte dianteira no console de teto, que incorpora relógio, calendário e cronômetro.
Esteticamente, poucas alterações
O recente lançamento do Del Rey ainda não obrigou a fábrica a introduzir modificações substanciais de estilo. Do início da comercialização até hoje, ele se mantém, externamente, o mesmo. Já o carro da Volkswagen apresenta como principal alteração a inclusão de nova frente, comum a toda linha Passat. São quatro faróis menores, mais eficazes que os dois maiores anteriores. O spoiler dianteiro foi redesenhado e equipa também as versões GTS e GLS. Lateralmente, os dois automóveis mostram frisos de borracha que teriam a dupla função de embelezar e proteger as portas ao serem abertas. Mas isso não acontece: eles estão localizados em plano inferior ao vinco que dá rigidez à estrutura, não impedindo que as portas toquem outros automóveis ou paredes de garagem. Finalmente, as lanternas traseiras do Passat receberam friso cromado horizontalmente que separa, na lente, a cor âmbar do vermelho.
Andando no LSE e Del Rey
A unificação dos novos motores MD-270 – motor Torque – para todas as versões Passat retirou do LSE um dos primeiros pontos de diferenciação com o restante da linha. Anteriormente, tanto o TS – atual GTS – quanto o LSE vinham equipados com motor 1.600, enquanto os modelos restantes eram dotados de unidade motriz de 1.500 cm³. A principal característica do MD-270 é o torque máximo em mais baixas rotações, o que confere maior elasticidade e torna o Passat ainda mais agradável de ser dirigido. Para o Passat LSE, assim como para o GTS, já não existe a opção do câmbio mais longo – 3+E -, projetado para proporcionar maior economia. O câmbio é o tradicional “S”. O Del Rey mantém intactas as características mecânicas básicas aprovadas e bem aceitas desde o lançamento. O câmbio de cinco marchas é muito bem escalonado, assim como a eficiência e suavidade dos engates.
A necessidade mercadológica de produzir sempre melhores veículos torna os carros de uma mesma classe cada vez mais equivalentes. A estabilidade e o conforto de marcha, situados em melhores níveis, são fruto de constantes acertos de molas, amortecedores e geometria de suspensão. O Del Rey ainda apresenta leve tendência de levantar a roda dianteira do lado interno da curva, o que prejudica momentaneamente a tração. Já o comportamento do LSE é absolutamente irrepreensível em qualquer situação.
Em termos de consumo médio, o Del Rey leva ligeira vantagem, principalmente pelas marcas obtidas na estrada, fato amplamente justificado pela presença da quinta marcha. Em contrapartida, o LSE tem melhores retomadas e um pouco mais de rapidez nas acelerações partindo da imobilidade.
Os freios dos dois carros são servo-assistidos e apresentam bom desempenho. O Del Rey tende a mergulhar a frente em situações de emergência, provocando ocasionalmente o travamento das rodas traseiras, o que não acontece com o LSE.
Conclusão
Entre os dois quatro portas, médio-pequenos de luxo, a escolha torna-se difícil. Percebe-se que o nível de sofisticação de ambos não deixa nada a dever aos grandes. Dentro das características de cada um, os itens analisados pendem lado a lado, atingindo uma média que quase os iguala. São excelentes opções.
Notas Auto Esporte | ||
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Item | Del Rey | Passat |
Desempenho | 8 | 9 |
Consumo | 10 | 9 |
Estabilidade | 8 | 10 |
Autonomia | 10 | 10 |
Dirigibilidade | 10 | 10 |
Conforto | 10 | 8 |
Comandos | 9 | 9 |
Painel | 10 | 8 |
Porta-malas | 9 | 9 |
Estilo | 8 | 8 |
Motor | 9 | 9 |
Freios | 8 | 9 |
Direção | 10 | 10 |
Suspensão | 8 | 10 |
Transmissão | 10 | 10 |
Segurança | 8 | 8 |
Nível de ruído | 8 | 8 |
Acabamento | 10 | 10 |
Visibilidade | 10 | 10 |
Iluminação | 8 | 10 |
Média | 9,0 | 9,15 |
Consumo | |||
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Peso para média ponderada | Del Rey | Passat | |
Centro urbano | 3 | 8,1 km/l | 7,9 km/l |
Bairros periféricos | 2 | 9,7 km/l | 9,1 km/l |
Vias expressas | 2 | 10,8 km/l | 9,5 km/l |
Estrada movimentada | 1 | 12,6 km/l | 11,7 km/l |
Estrada a 100 km/h | 1 | 13,5 km/l | 12,4 km/l |
Estrada a 80 km/h | 1 | 14,3 km/l | 13,1 km/l |
Média de cidade | 7 | 9,3 km/l | 8,7 km/l |
Média de estrada | 3 | 13,4 km/l | 12,4 |
Média geral padrão Auto Esporte | 10 | 10,5 km/l | 9,8 km/l |
Instrumentos | ||
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Velocidade indicada no velocímetro | Del Rey | Passat |
40 | 36,1 km/h | 38,9 km/h |
60 | 56,7 km/h | 57,5 km/h |
80 | 75,3 km/h | 78,2 km/h |
100 | 94,2 km/h | 97,5 km/h |
Erro médio percentual | +6,7% | +2,9% |
Distância indicada no hodômetro | Del Rey | Passat |
1000 metros | 982,5 | 1014,3 |
Erro médio percentual | +1,8% | -1,5% |
Desempenho | ||||
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Acelerações de arrancada | Marchas utilizadas | Tempo (segundos) | ||
Del Rey | Passat | Del Rey | Passat | |
0 a 80 km/h | 1ª a 3ª | 1ª e 2ª | 10,1 | 9,7 |
0 a 100 km/h | 1ª a 3ª | 1ª a 3ª | 15,1 | 13,5 |
0 a 400 metros | Todas | Todas | 21,0 | 20,1 |
0 a 1000 metros | Todas | Todas | 38,3 | 36,1 |
Acelerações de retomada | Marchas utilizadas | Tempo (segundos) | ||
Del Rey | Passat | Del Rey | Passat | |
40 a 60 km/h | 3ª | 3ª | 5,0 | 4,3 |
40 a 60 km/h | 4ª/5ª | 4ª | 7,5/9,5 | 6,5 |
60 a 80 km/h | 3ª | 3ª | 4,9 | 4,8 |
60 a 80 km/h | 4ª/5ª | 4ª | 8,0/9,3 | 7,0 |
80 a 100 km/h | 3ª | 3ª | 5,8 | 5,1 |
80 a 100 km/h | 4ª/5ª | 4ª | 8,1/9,3 | 7,9 |
Desacelerações | Tempo (segundos) | Distância (metros) | ||
Del Rey | Passat | Del Rey | Passat | |
60 a 0 km/h | 1,9 | 1,7 | 17,1 | 15,8 |
80 a 0 km/h | 2,4 | 2,4 | 29,2 | 28,3 |
100 a 0 km/h | 3,3 | 3,8 | 44,1 | 42,5 |
Velocidade máxima real | Del Rey | Passat | ||
Em 4ª marcha | 149,3 km/h | 151,9 km/h |
Ficha técnica – Del Rey Ouro |
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Carroceria – Carroceria de chapa de aço estampado, tipo sedã três volumes, quatro portas e cinco lugares. Estrutura diferenciada monobloco. |
Motor – Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, bloco em ferro fundido, cabeçote em liga leve, árvore de comando de válvulas lateral acionada por corrente; alimentação por carburador de corpo duplo, duplo estagiado, aspiração descendente; refrigeração a água com ventilador mecânico acionado por embreagem eletromagnética. Diâmetro e curso dos pistões: 76,96 x 83,5 mm; cilindrada total: 1.554 cm³; taxa de compressão: 1:8,0; potência: 70,7 CV/52 kW (SAE) a 5.000 rpm; torque: 11,0 mkgf/108,0 Nm (SAE) a 3.000 rpm; gasolina comum. |
Transmissão – Tração dianteira, embreagem monodisco a seco de acionamento mecânico; caixa de câmbio de cinco marchas sincronizadas à frente e uma à ré, com alavanca de câmbio no assoalho. Relação de marchas: 1ª) 3,46:1; 2ª) 2,21:1; 3ª) 1,42:1; 4ª) 0,97:1; 5ª) 0,86:1; ré) 3,08:1; relação de diferencial, 3,875:1. |
Suspensão dianteira – Independente, com braços inferiores triangulares, braços simples superiores, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos, tensores diagonais e barra estabilizadora. |
Suspensão traseira – Eixo rígido com dois tensores longitudinais, um braço triangular superior e dois inferiores, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. |
Freios – De serviço: acionamento hidráulico, servo-assistido a vácuo, circuitos independentes, disco nas rodas dianteiras e a tambor nas rodas traseiras; freio de estacionamento mecânico nas rodas traseiras, com acionamento entre os bancos. Diâmetro dos discos: 22,7 cm²; superfície total de frenagem: 348 cm². |
Direção – Mecânica, de pinhão e cremalheira, com amortecedor hidráulico; 3,4 voltas de batente a batente; diâmetro mínimo de giro: 11,7 m |
Rodas – Aro 13 e tala 5,0 polegadas, de alumínio injetado |
Pneus – Radiais metálicos de perfil 185/70 SR 13 |
Sistema elétrico – Bateria de 12 V e 42 amp. Alternador de 40 A e 55 A (ar condicionado). |
Dimensões externas – Comprimento, 449,8 cm; largura, 167,6 cm; altura, 134,5 cm; distância entre eixos, 243,8 cm; bitola dianteira, 136,7 cm; bitola traseira, 133,3 cm; altura mínima do solo, 13,0 cm. |
Capacidades – Tanque de combustível: 57 litros; cárter: 3,0 litros; câmbio e diferencial: 1,9 litros; radiador: 5,0 litros (5,2 litros com ar condicionado); porta-malas: 343 litros. |
Pesos – Líquido em ordem de marcha: 1.037 kg; peso útil: 438 kg. |
Ficha técnica – Passat LSE |
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Carroceria – Carroceria de chapa de aço estampado, tipo sedã, quatro portas e cinco lugares. Estrutura diferenciada monobloco. |
Motor – Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros inclinados em linha, bloco em ferro fundido, cabeçote em liga leve, árvore de comando de válvulas no cabeçote acionada por correia dentada; árvore de manivelas com cinco mancais; alimentação por carburador de corpo duplo, duplo estagiado, aspiração descendente; refrigeração a água com ventilador elétrico acionado por termostato. Diâmetro e curso dos pistões: 79,5 x 80,0 mm; cilindrada total: 1.588 cm³; taxa de compressão: 1:8,3; potência: 72 CV/53 kW (DIN) a 5.200 rpm; torque: 12,0 mkgf/120,0 Nm (DIN) a 5.200 rpm; gasolina comum. |
Transmissão – Tração dianteira, embreagem monodisco a seco de acionamento mecânico; caixa de câmbio tipo “S” de quatro marchas sincronizadas à frente e uma à ré, com alavanca de câmbio no assoalho. Relação de marchas: 1ª) 3,45:1; 2ª) 1,94:1; 3ª) 1,29:1; 4ª) 0,91:1; ré) 3,17:1; relação de diferencial, 4,11:1. |
Suspensão dianteira – Independente, McPherson, com braços inferiores triangulares, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. |
Suspensão traseira – Eixo rígido oscilante, tubo de torção, braços longitudinais, estabilizador diagonal, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos. |
Freios – De serviço: acionamento hidráulico, servo-assistido a vácuo, circuitos independentes em diagonal, disco nas rodas dianteiras e a tambor nas rodas traseiras; freio de estacionamento mecânico nas rodas traseiras, com acionamento entre os bancos. Diâmetro dos discos: 23,9 cm²; superfície total de frenagem: 294 cm². |
Direção – Mecânica, de pinhão e cremalheira, com amortecedor hidráulico; 3,9 voltas de batente a batente; diâmetro mínimo de giro: 10,3 m |
Rodas – Aro 13 e tala 5,5 polegadas, de liga de alumínio |
Pneus – Radiais de perfil 175/70 SR 13 |
Sistema elétrico – Bateria de 12 V e 42 amp. Alternador de 420W. Ignição eletrônica, sem platinado. |
Dimensões externas – Comprimento, 420,6 cm; largura, 160,0 cm; altura, 135,5 cm; distância entre eixos, 247,0 cm; bitola dianteira, 134,0 cm; bitola traseira, 134,6 cm; altura mínima do solo, 13,0 cm. |
Capacidades – Tanque de combustível: 60 litros; cárter com filtro: 3,5 litros; câmbio e diferencial: 1,5 litros; radiador: 5,1 litros; porta-malas: 400 litros. |
Pesos – Líquido em ordem de marcha: 915 kg; peso útil: 425 kg. |
Dois bons carros na época. Mas o Passat era mais adequado para andar com o pé embaixo. Já o Del Rey era destinado para pessoas mais tranquilas, que não tinham tanta pressa.
Verdade, o passat tinha um visual mais esportivo porém em conforto e acabamento deixava muito a desejar, ja o del rey dava um show.