Nós da Home-Page do Passat, como os leitores já sabem, adoramos registros de época. E quando eles vêm em forma de vídeo, é ainda melhor. Já faz algum tempo que publicamos, por exemplo, uma cena com um Passat GTS Pointer e um Santana na novela Selva de Pedra. E hoje trazemos um verdadeiro achado para o nosso acervo, resgatado diretamente da teledramaturgia brasileira de 1978.
O mérito da descoberta é todo do Samuel Martins, que encontrou as imagens e publicou em nosso grupo do Facebook. Agradecemos a ele por ter compartilhado o achado e nos proporcionado pesquisar mais sobre o assunto!
A oportunidade surgiu com a inclusão de 6 capítulos da pouco conhecida novela Sinal de Alerta no projeto Fragmentos da Globoplay. Esse projeto é uma iniciativa para resgatar e disponibilizar capítulos de novelas clássicas da TV Globo que foram perdidos ou estão incompletos devido a diversos fatores, como reutilização de fitas e incêndios. Foi lá que o Samuel identificou uma raríssima aparição de um Passat 4M na TV, sendo usado como carro de uma das protagonistas. Imediatamente fomos atrás dos vídeos para compilar as cenas e analisar os detalhes para vocês.

O vídeo que publicamos está focado exclusivamente nas cenas do Passat 4M. Mas, ao longo do post vamos publicar algumas fotos de outros carros interessantes que aparecem nos capítulos disponíveis.
A novela Sinal de Alerta
A novela Sinal de Alerta foi escrita por Dias Gomes e exibida na Rede Globo de 31 de julho de 1978 até 26 de janeiro de 1979, no antigo horário da novela das 10. O elenco tinha nomes de peso, com nada menos do que Paulo Gracindo e Yoná Magalhães como protagonistas, representando um casal separado.
Além deles, a história contou com atores como Jardel Filho (que fez sucesso contracenando com Paulo Gracindo em O Bem Amado, como o médico Juarez Leão), Vera Fischer, Ruth de Souza, Carlos Eduardo Dolabella, Milton Gonçalves e Ruy Rezende (que anos mais tarde foi o Professor Astromar, de Roque Santeiro), entre tantos outros.
A trama era ousada para a época, com uma temática ambiental que girava em torno do empresário Tião Borges (Paulo Gracindo), dono da fábrica Fertilit, e sua ex-esposa Talita (Yoná Magalhães), jornalista que denunciava a poluição produzida pela fábrica e que também era a proprietária do Passat 4M. Além disso, eram abordados temas como o caos urbano, a violência, além de assuntos mais sensíveis para a época como o uso de drogas e o relacionamento entre uma mulher e um homem cerca de 40 anos mais velho.
Uma inovação para a época é que a abertura da novela não tinha música, mas sim sons urbanos que representavam a poluição sonora. Para os noveleiros de plantão que desejarem saber mais sobre a história da novela e seus bastidores, recomendo este artigo da jornalista Heloisa Tolipan.
O Passat 4M da personagem Talita e o seu destino na vida real
Existem cenas do Passat 4M sendo conduzido pela Yoná Magalhães em alguns momentos. Infelizmente, devido aos poucos capítulos disponíveis, esses registros foram encontrados apenas nos capítulos 1 e 2, sendo que é no primeiro capítulo que o carro mais aparece. No segundo, há apenas uma rápida passagem no fundo de uma cena.
E é muito bom poder ver registros em vídeo dessa versão, então bem recente no mercado. Portanto, um carro praticamente 0km. No início da exibição da novela, é bem possível que a versão 4M nem existisse mais a venda nas concessionárias, o que deixa uma dúvida se era um merchandising da Volkswagen ou simplesmente a produção escolheu um Passat para a personagem usar.

Mesmo com pouco tempo de tela, é possível ver um pouco melhor as características da versão, mesmo que atualmente a gente tenha alguns belos exemplares preservados, alguns deles com alto índice de originalidade.
Uma curiosidade é que na primeira cena, quando a atriz Yoná Magalhães entra no seu carro para ir até a casa do ex-marido, percebemos que há o adesivo 4M vermelho na tampa do porta-malas. É uma passagem muito rápida, sendo necessário parar o vídeo pra ver melhor (e ainda assim, um tanto sofrido pela baixa resolução da imagem). Mas, ao chegar na bela mansão de Tião Borges, o Passat não tem mais a identificação 4M, ficando apenas com o emblema Passat LS do lado esquerdo da tampa do porta malas.
Outro fato interessante é o adesivo da concessionária Abolição no vidro traseiro, que é possível ver principamente durante a primeira cena em que o carro aparece. Ela foi uma das maiores concessionárias do Rio de Janeiro e existe até hoje, trabalhando com várias montadoras, sob o nome Grupo AB.

O Passat 4M de placas RP-2013 (os fanáticos por placas do RJ lembrarão que RP era um prefixo comum neste ano). entra na mansão e podemos ver rapidamente todos os demais detalhes: os frisos laterais, então exclusivos, e que se tornariam item opcional para o LS e de série para o LSE no ano seguinte, o borrachão do TS nos parachoques, as rodas pintadas na cor da carroceria.
Mas chega de enrolação. Quem não pulou direto para o vídeo, poderá assistir abaixo. E já voltamos ao assunto com este exemplar…
Ao assistir as cenas, era um tanto óbvio tentar imaginar qual era o paradeiro deste carro atualmente: se ainda existe, se há pelo menos um registro, se ele ao menos chegou na época da placa de três letras… E fomos atrás! Com a placa amarela nas mãos, torcemos para o carro ter permanecido na cidade do Rio de Janeiro pelo menos até a transição para a placa cinza. Sendo assim, já seria uma quase garantia de que o número 2013 teria sido mantido na nova placa. Pedi então ajuda a um grande amigo e ele encontrou o que seria o seu provável registro!

De posse da placa de três letras, iniciamos a pesquisa da maneira mais simples: o site do Detran-RJ. Para quem não conhece, lá existe uma página de consulta simples, apenas para ver o primeiro nome do proprietário, último ano de licenciamento e características básicas do veículo. Outra informação importante que o site nos dá é a placa anterior: e a ótima notícia é que lá estava o RP-2013!
A notícia ruim, entretanto, é que o ano do último licenciamento é de 1996. Muitos Passat que pesquiso acabam tendo esse ano como o derradeiro no licenciamento, pois foi o limite legal para trocar as placas dos carros com placas amarelas no estado do Rio de Janeiro. Depois disso, muitos proprietários de carros mais velhos acabavam largando de mão o licenciamento anual, com suas burocráticas vistorias e filas imensas nos postos do Detran, usando o carro até o final da sua vida útil.

Aprofundando mais um pouco essa pesquisa, descobrimos que infelizmente o proprietário que consta no cadastro deste Passat faleceu há mais de 20 anos. Com isso, mesmo que o carro ainda existisse naquela época, ele pode ter ficado impedido de ser transferido por questões de inventário ou não valia a pena para a família gastar dinheiro neste processo para um veículo que na época tinha um valor de mercado baixo (e sabe-se lá em que estado de conservação). A partir daí, poderiam ter continuado a usar o veículo mesmo com a documentação atrasada, como é comum até hoje, ainda mais quando é pra circular apenas dentro do bairro onde moram.
Chegamos a encontrar um Passat 3 portas em uma imagem de 2010 no Google Street View onde consta um dos endereços do proprietário. Porém, o carro está com as características externas de um 1983 ou 1984, pintado de outra tonalidade (algo mais próximo do Bege Equatorial) e que já estava em um estado de conservação bem ruim. Poderia ser o mesmo, já que era bem comum modernizar modelos antigos.

Além disso, nessa época as vendas dos modelos de 3 portas já eram bem menores (aproximadamente 14% em 1983 e menos de 8% em 1984), o que fortalece a tese de que este 3 portas poderia ser um modelo mais antigo com sua aparência atualizada para os anos 80. Mas é impossível confirmar e tudo o que está escrito aqui, fora os dados que conseguimos nos registros, são apenas suposições. Deixamos aqui para a imaginação de cada um criar o próprio destino deste exemplar.
Bem, depois da novela Sinal de Alerta, só temos conhecimento de um Passat 4M sendo usado como carro de personagem depois de 36 anos, em Boogie Oogie, onde o nosso exemplar (que também tinha a placa amarela com as letras RP) apareceu em alguns capítulos como o carro do personagem do ator Rodrigo Simas. Será que mais algum foi utilizado nesse intervalo?
Outros carros da novela
Diversos outros carros aparecem nestes poucos capítulos disponíveis. Apesar de não colocarmos outros no vídeo, além do Passat, até mesmo pelo trabalho excessivo que isso seria e também pra não perder o foco no Passat 4M, vale a pena citar alguns que aparecem e mostrar as imagens.

A cena onde há mais carros é, claro, no trânsito do Rio de Janeiro. Durante uma briga entre o personagem Nilo (Eduardo Conde) e um motorista de ônibus, várias pessoas param os carros na rua para se intrometer na confusão, sem nem mesmo saber o que está acontecendo, em uma clara alusão ao caos urbano e aos nervos à flor da pele da população. É neste momento que aproveitamos pra apreciar alguns exemplares que atualmente são mais difíceis de encontrar.
A maior parte deles aparece apenas por alguns instantes. Um exemplo é o Puma de placa OZ-8190, de cor metálica e acessórios como faróis amarelos e carroceria modificada para alojar um par de faróis auxiliares. Ainda nos modelos de fibra, há um Bugre em seu estado original e uma cor bem peculiar, que não me recordo de ter visto antes neste modelo.

No meio da confusão, uma viatura da Polícia Militar chega ao local: a “Joaninha”, como eram chamados os Fuscas da PM, vem com a sirene ligada em meio ao trânsito com outros Fuscas, Landau, Corcel e demais modelos.

O personagem Nilo, em um capítulo mais adiantado, acaba trabalhando com compra e venda de carros usados. Inicialmente como vendedor de uma loja, de onde pede demissão para trabalhar por conta própria. O seu primeiro negócio é um Opala, provavelmente 1971 ou 1972, de 6 cilindros, segundo o diálogo. O estado de conservação é ruim para um carro de poucos anos de uso, mas o registro vale a pena porque o personagem aparece dirigindo o mesmo em uma cena, ficando mais tempo na tela do que boa parte dos outros veículos que aparecem.

Na vila onde mora o mesmo personagem também é possível ver alguns carros estacionados, incluindo uma Kombi e um (já) velho Aero Willys abandonado, já sem placas e outras peças.

Há muitos outros carros nas cenas e que mereceriam aparecer por aqui. Mas para não nos alongar ainda mais, selecionamos alguns para estar aqui e recomendamos que vocês assistam os demais capítulos na Globoplay, porque vale a pena conhecer (ou rever, se você assistiu a novela na época) esse pedaço da cultura brasileira.
Agradecemos mais uma vez ao Samuel pelo achado! E se você tiver sugestões de mais novelas ou filmes onde o Passat aparece, deixe aqui nos comentários!
Continuamos em busca de mais cenas assim para deixar registrado aqui na Home-Page do Passat.
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