Teste do Passat Village 1986
Revista Quatro Rodas nº 314 – Setembro de 1986
Reportagem de Douglas Mendonça
Fotos de Mituo Shiguihara
Sem luxo nem muitos enfeites, o Passat LS mostrou, porém, por que acabou sendo redescoberto pelos brasileiros: é um carro espaçoso, muito estável, de excelente desempenho e ainda relativamente barato.
Passat LS Village. Quatro Rodas de janeiro. Lembram-se? Foi um dos testes mais polêmicos que já publicamos. Muita gente, inclusive nós, ficou sem entender muito bem como aquele Passat, com motor 1.6, tinha conseguido andar mais que Gol GT e Santana, que tem motor 1.8 e bem mais potente. Amadurecimento do projeto? Acerto de regulagem? Melhora aerodinâmica? Não, nenhuma destas respostas era plenamente convincente.
O jeito foi deixar passar algum tempo, até levar para a nossa pista esse outro Passat LS Village. E olha o que aconteceu: agora com o Correvit, e não mais com a quinta roda, ele chegou aos mesmos 166 km/h e ainda baixou o tempo gasto na aceleração de 0 a 100 km/h de 13,17 para menos de 12 segundos.
Um aviãozinho. A verdadeira explicação para isso, contudo, ainda não surgiu. Pode estar na soma das três já enumeradas – e acrescidas, talvez, de uma nova: esse motor 1.6, como também o do Gol e o dos Voyage/Parati, estaria depois de diversos aperfeiçoamentos, saindo de fábrica com potência média de 90 cv em vez da que é declarada, de 85 cv. Se assim for, cabe à fábrica a correção. O certo, de qualquer forma, é que o Passat LS testado em janeiro não foi uma exceção: oito meses depois, os números se repetiram.
Simultaneamente, nesse período, o público brasileiro parece ter redescoberto o Passat. Ele vendia menos de 700 unidades por mês no início do ano, só sobrevivendo graças às exportações para o Iraque. Hoje é nosso terceiro carro mais vendido, só atrás do Monza e do Gol, com mais de 6000 unidades por mês.
E há boas razões, além do desempenho, para essa redescoberta. Não é um carro de luxo nem muito enfeitado. Mas é espaçoso, relativamente barato e equipado com o que todo carro moderno essencialmente deve ter, desde um bom sistema de refrigeração forçada até um perfeito equilíbrio entre estabilidade e conforto.
A primeira sensação, ao sentar para dirigi-lo, é de espaço: pode-se movimentar a perna esquerda sem que bata na porta, o painel está longe e o vidro dianteiro, do tipo temperado, é amplo. O banco segura bem o corpo, apesar de um pouco duro. E o funcionamento do cinto é exemplar, tamanha a facilidade de manuseio que oferece no dia a dia. O fecho está sempre à mão.
Dirigindo, chama a atenção o diâmetro do volante, 2 cm maior que o da maioria dos outros carros. Se isso facilita as manobras e os esterços em baixa velocidade, dificulta o acionamento das alavancas presas à coluna de direção, que passaram a ficar curtas. Até o modelo 84, é bom lembrar, o volante era menor – e só mudou em 85 por exigência do novo painel, igual ao do Santana.
Esse painel é ocupado, à esquerda, por um enorme velocímetro, com hodômetro parcial, que marca até 200 km/h. Do lado direito, um relógio de horas, do mesmo tamanho, incorpora o marcador de combustível. Entre os dois, as luzes-testemunha, que dão uma boa sensação de controle sobre o carro, e abaixo delas, bem posicionado, o indispensável marcador de temperatura do motor.
Completa o painel o que a Volks chama de econômetro, um instrumento de utilidade muito discutível. Programado para condições ideais de trânsito, ele acaba, na prática, conseguindo irritar o motorista com uma luzinha amarela, que só se apaga definitivamente quando é engatada a quinta marcha. Como no trânsito normal isso quase nunca é possível, fica-se obrigado a conviver com ela acesa durante a maior parte do tempo.
Não é privilégio do Passat LS, porém. Nos Santana e, mais estranhamente ainda no esportivo de fábrica, o Gol GT, esse instrumento também está presente. E nem por isso, é claro, se alteram as médias de consumo desses carros no teste, que no caso deste Passat foram de cerca de 12 km/l na estrada, vazio e carregado, e em torno de 7 km/l na cidade – números um pouco inferiores aos do último teste, mas suficientes para a manutenção da nota 6.
Preços e equipamentos
O Passat LS Village com motor à álcool custa atualmente Cz$ 83.288,06, incluídos nesse preço os seguintes equipamentos: carburador de corpo duplo, servofreio, câmbio de cinco marchas, pneus 175-70 SR 13, spoiler dianteiro integrado ao pára-choque, lâmpadas halógenas, painel espumado e revestido, hodômetro parcial, relógio, tampa do bocal de combustível com chave, ventilação forçada, temporizador e lavador elétrico do pára-brisa, marcador de temperatura, acendedor de cigarros, assoalho carpetado, console parcial, bancos de tecido com encosto alto na frente e reguláveis, frisos largos laterais, espelho retrovisor esquerdo com controle interno, econômetro e vidro térmico traseiro.
Adicionalmente pode vir, como o carro testado, com rádio AM/FM estéreo, ar quente, espelho retrovisor direito com controle interno e rodas de liga leve. Com isso, seu preço sobe para Cz$ 88.686,48. E, em outro pacote, pode ser complementado com toca-fitas, banco do motorista com regulagem de altura, luzes de cortesia, antena elétrica e vidros verdes, passando a custar Cz$ 93.490,10.
- Cores disponíveis: Branco, bege vime, bege polar, cinza, verde cristalino, verde esmeralda e vermelho, combinando com interior preto ou marrom.
- Garantia: um ano, sem limite de quilometragem, e dois anos para as peças em contato direto com o álcool.
- Seguro do modelo testado: Cz$ 6.240,00, inclusive contra terceiros, com franquia de Cz$ 1.440,40.
- IPVA: Cz$ 840,00 (SP)
- Participação na frota: Havia em 31/12/85, segundo o Geipot, 587.456 Passat em circulação no país, o que correspondia, então, a 5,6% da frota nacional de automóveis e utilitários.
- Concorrentes mais diretos: Prêmio CS 1.3 (Cz$ 83.950), Belina L (Cz$ 85.367), Escort L (Cz$ 83.382), Monza Standard 2p (Cz$ 84.385), Monza 1.8 SL/E hatch (Cz$ 83.629) e Opala Standard 4.1 (Cz$ 83.056).
- Resistência: No seu último teste de 30.000 km, publicado em junho de 1984, o Passat 1.6, então modelo 83, com motor 1.6 e câmbio de quatro marchas, apresentou principalmente problema no marcador de combustível, botão da buzina solto, eixo traseiro torto, folga na direção e dois pneus furados. Ao final, obteve a média de consumo de 7,87 km/l de álcool.
Ponto a ser destacado é o câmbio desse Passat. O sistema é preciso e os engates acontecem quase naturalmente, sem que se precise forçar a alavanca de mudanças. A única restrição é o pedal da embreagem. Como em quase toda a linha Volks, exige esforço bem acima da média para ser acionado. E isso sem considerar que, à medida que o carro envelhece, a tendência é esse esforço aumentar.
A ventilação interna é muito boa. Com chuva, se o sistema estiver bem direcionado, todos os vidros permanecem desembaçados. Também ajuda a resfriar bem o carro, no calor, e só é um pouco ruidosa demais no seu estágio máximo de regulagem. Mas isso só um ar-condicionado, que não é disponível de fábrica para esse Passat, resolveria.
Finalmente, aliado a um porta-malas de tamanho razoável, que dá bem para uma família viajar, o outro ponto de destaque do carro é o seu silêncio interior, a rigor só comparável, entre os carros nacionais, ao oferecido por Monza e Santana. É mais uma prova importante do acerto de um carro que, como se vê, tem tudo para continuar disputando, por mais alguns anos, a preferência do público brasileiro.
Redescoberta chega às pistas
Lançado em 1974, um ano depois que na Europa, o Passat foi o carro que se contrapôs à filosofia adotada até então pela Volkswagen no Brasil, de só produzir carros com tração e motor traseiros e refrigerados a ar. E não poderia ter sido mais bem sucedido, tanto em vendas, que só despencaram em 84/85, como em projeto: hoje, quase toda a vitoriosa linha Volks de refrigerados a água é derivada do primeiro Passat.
Para chegar no atual estágio de acerto, evidentemente o Passat foi sendo submetido a uma série de aperfeiçoamentos: primeiro na suspensão, que deixou de ser muito dura e barulhenta; depois no câmbio, que ganhou um novo trambulador a partir de 1977 e, mais recentemente, no motor, que passou a ser o moderno AP-600, de bielas longas.
Na carroceria, poucas modificações – e nem eram muito necessárias. Leve e aerodinâmico, o desenho de Giugiaro concebido para o Passat, com base no Audi 80, seguramente não iria envelhecer tão cedo. E, ainda hoje, no Brasil, o Passat pode ser considerado um carro de linhas modernas, apesar de se saber que, no máximo em dois anos, deixará sua forma atual para se transformar no Santana de dois volumes, como, aliás, já aconteceu na Alemanha.
De qualquer forma, parar de ser fabricado é hoje uma hipótese fora de cogitação. Basta verificar, entre tantos fatores, sua expressiva participação no Campeonato Brasileiro de Marcas, onde também parece ter sido redescoberto pelos pilotos: na última prova, realizada em Goiânia, foram Passat os 13 primeiros colocados, o que deu à marca, por antecipação, a conquista do título.
Resultados – Passat Village 1986
Item | Avaliação | Nota |
---|---|---|
Desempenho | Muito bom, ainda mais por ser um carro para a família: 166 km/h de máxima. | 8 |
Consumo | Bom na estrada (em torno de 12 km/l) e só razoável na cidade (7,18 km/l). | 6 |
Motor | Semelhante ao atual europeu, oferece alta potência sem consumo exagerado. | 7 |
Câmbio | bom conjunto, rápido e preciso. Apenas o pedal da embreagem estava um pouco duro. | 7 |
Freios | Com a eficiência de sempre e sem exigir maior esforço no pedal. Espaços normais. | 7 |
Direção | Fácil de manobrar na cidade e precisa em alta velocidade. Volante grande. | 6 |
Estabilidade | Um dos pontos altos do carro. Sente-se seguro, mesmo abusando um pouco. | 8 |
Suspensão | Bem adaptada às nossas condições de piso, proporciona conforto e estabilidade. | 7 |
Estilo | Aos 13 anos – e apesar da assinatura de Giugiaro –, já reclama uma renovação. | 6 |
Conforto | Contendo o indispensável, mas sem luxo, está na média dos carros brasileiros. | 7 |
Posição de dirigir | Sem problemas: banco com ampla regulagem e fácil acesso aos comandos. | 6 |
Instrumentos | Equiparados recentemente aos do Santana, formam um painel bonito e suficiente. | 6 |
Visibilidade | Algo comprometida para trás, por causa do design do carro, mas sem problemas. | 6 |
Nível de ruído | Um dos mais baixos, tanto em alta quanto em baixa velocidades. | 7 |
Porta-malas | Bom revestimento, estepe sob o assoalho e capacidade para 362 litros. | 7 |
Velocidade máxima na pista (km/h reais) | |
---|---|
Média de 4 passagens | 166,0 |
Melhor passagem | 169,5 |
Aceleração | ||
---|---|---|
Variação de velocidade | Tempo (segundos) | Marchas usadas |
0 – 40 km/h | 2,86 | 1ª |
0 – 60 km/h | 4,88 | 1ª/2ª |
0 – 80 km/h | 7,60 | 1ª/2ª |
0 – 100 km/h | 11,82 | 1ª/2ª/3ª |
0 – 120 km/h | 16,89 | 1ª/2ª/3ª |
0 – 140 km/h | 26,27 | 1ª/2ª/3ª/4ª |
0 – 400 m | 17,89 | – |
0 – 1000 m | 33,53 | – |
Retomada de velocidade | ||
---|---|---|
Variação de velocidade | Tempo (segundos) | Marcha usada |
40 – 60 km/h | 8,01 | 5ª |
40 – 80 km/h | 16,07 | 5ª |
40 – 100 km/h | 24,34 | 5ª |
40 – 120 km/h | 34,50 | 5ª |
40 – 1000 m | 40,63 | 5ª |
Consumo a velocidade constante | ||
---|---|---|
Velocidade real (km/h) | Consumo (km/l) | Marcha usada |
40 | 15,22 | 5ª |
60 | 13,96 | 5ª |
80 | 12,33 | 5ª |
100 | 9,92 | 5ª |
120 | 8,38 | 5ª |
40 | 12,85 | 4ª |
Consumo médio | ||
Na cidade | 7,18 | |
Na estrada, a 80km/h, carregado | 11,49 | |
Na estrada, a 80km/h, vazio | 12,41 |
Nível de ruído | ||
---|---|---|
Velocidade real (km/h) | Marcha usada | dB |
0 | Ponto morto | 47,7 |
20 | 1ª | 64,3 |
40 | 2ª | 65,9 |
60 | 3ª | 67,9 |
60 | 4ª | 67,5 |
80 | 4ª | 70,3 |
80 | 5ª | 69,8 |
100 | 5ª | 70,5 |
120 | 5ª | 73,5 |
Espaço de frenagem | |
---|---|
Velocidade (km/h) | Distância (metros) |
40 | 8,90 |
60 | 18,20 |
80 | 32,40 |
100 | 49,80 |
120 | 70,00 |
Freio de estacionamento | |
60 | 45,00 |
Ficha técnica – Passat Village 1986
Motor – Dianteiro, longitudinal, de quatro cilindros em linha, refrigerado a água. Comando de válvulas e válvulas de admissão e escapamento no cabeçote. Alimentação por um carburador de corpo duplo e fluxo descendente; a álcool. |
Diâmetro e curso – 81,0 x 77,4 mm |
Cilindrada total – 1.596 cm³ |
Taxa de compressão – 12:1 |
Potência máxima – 85 cv (63 kW) ABNT a 5.600 rpm |
Torque máximo – 12,65 mkgf (124 Nm) ABNT a 3.000 rpm |
Relações de marcha – 1ª) 3,45:1; 2ª) 1,94:1; 3ª) 1,29:1; 4ª) 0,91:1; 5ª) 0,73:1; diferencial, 4,11:1. Tração dianteira. |
Carroceria – Sedã, duas portas, cinco lugares, estrutura monobloco |
Suspensão dianteira – Independente, McPherson, com braços inferiores triangulares, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. |
Suspensão traseira – Semi-independente, com eixo trabalhando em torção, braços longitudinais tubulares, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. |
Freios – A disco nas rodas dianteiras e a tambor nas rodas traseiras, com servo |
Direção – Mecânica, de pinhão e cremalheira; diâmetro do volante: 39,5 cm |
Diâmetros de giro – 10,20 m, tanto para a direita como para a esquerda. |
Dimensões externas – Comprimento, 426,2 cm; largura, 160,0 cm; altura, 135,5 cm; distância entre eixos, 247,0 cm; bitola dianteira, 134,0 cm; bitola traseira, 134,2 cm; altura mínima do solo, 14,0 cm. |
Rodas – Aro 13 x tala 5 polegada, de liga leve |
Pneus – 175/70 SR 13 |
Capacidade do tanque – 60 litros |
Capacidade do porta-malas – 362 litros |
Capacidade total de carga – 450 kg |
Peso do carro testado – 950 kg |
Fabricante – Volkswagen do Brasil S.A., via Anchieta, km 23,5, CEP 09700, São Bernardo do Campo, SP. Telex: (011) 44 5193. |
Um dos carros mais bem acertados do Brasil, já em 83/84 estava bastante melhorado, e perto de encerrar a produção (no finzinho dos anos 80, em 1988) era ainda sonho de consumo, apesar de poucas mudanças.