Teste: Passat 1984
Revista Quatro Rodas nº 280 – Novembro de 1983
Reportagem de Emilio Camanzi
Fotos de Claudio Larangeira
A maior novidade do Passat 84 a álcool é o novo sistema de partida a frio, com que se liga o motor mais facilmente. Além disso ele revela as boas qualidades de um carro aperfeiçoado durante quase onze anos.
Dos carros produzidos pela Volkswagen do Brasil, a linha Passat para 1984 foi a primeira a sair. E os motores a álcool saíram com uma boa novidade: sistema automatico para partida a frio, com que o carro pode ser ligado mais facilmente. No mais, os novos modelos diferem dos anteriores apenas em detalhes. Por isso, o Passat LS Village 1984 a álcool agora testado mantém as mesmas boas qualidades de consumo e desempenho.
Já que a Volkswagen garantiu que continuará fabricando o Passat — pois o Santana, que lançará no ano que vem, é um carro de categoria superior — seria bom ter feito algumas modificações. Principalmente na traseira e no painel, iguais desde seu lançamento, em julho de 1974. Assim o modernizaria um pouco e poderia agradar aos que se queixam de que não muda.
Uma das novidades foi o acréscimo de nomes: além do nome Passat e da sigla, vem outro. O LS agora é chamado de Village; o GTS, versão esportiva, de Pointer: e o LSE, o mais luxuoso, de Paddock. A Volkswagen criou ainda uma versão mais simples, a Special, também a mais barata. E já não existe mais a versão GLS.
Abaixo de 17º C o sensor injeta gasolina
Outras novidades foram o revestimento interno cinza, a eliminação do friso cromado em torno do painel, a colocação de um friso de borracha na parte inferior da tampa do porta-malas e a inclusão do nome “Village” sob o logotipo “Passat LS”. Na mecânica, houve apenas a modificação do sistema de partida a frio. No novo sistema, quando se vira a chave um sensor faz com que a gasolina seja injetada automaticamente, se a temperatura no compartimento do motor estiver abaixo de 17º C.
Apesar disso, foi mantido o botão para injeção manual no painel. E também com uma modificação: com ele se injeta gasolina mesmo com o motor de arranque desligado, ao contrário do que acontecia nos modelos anteriores. Mas só enquanto a temperatura for inferior a 17 C, porque acima disso o sensor interrompe o circuito elétrico e o injetor deixa de funcionar.
É um sistema muito parecido com o do Corcel e do Escort. E tem a vantagem de, em regiões muito frias, possibilitar a injeção de gasolina antes da partida (e durante) para facilitar o início do funcionamento do motor. E também, nesses casos, de continuar injetando nos primeiros movimentos do motor para facilitar seu funcionamento. O novo sistema funcionou bem.
Mas foi eliminado um acessório muito importante: a luz no painel, que indicava quando o reservatório de gasolina precisava ser reabastecido. Um absurdo, ainda mais com o novo sistema que, por não poder ser desligado (como no Corcel), sempre que o sensor achar que deve injetar gasolina para uma partida rápida, ele o fará. Assim, o reservatório se esvaziará mais rapidamente, e o motorista poderá ficar em dificuldade para dar a partida, num dia muito frio, sem saber que é por falta de gasolina.
Outro elemento importante, usado agora nos Passat a álcool, é uma bateria de maior capacidade: 54 amperes/hora. Com isso há também facilidade maior de virar o motor de arranque, fornecer energia para as velas e para o motor da bomba de injeção de gasolina, ajudando para que a partida seja mais rápida. Além, é obvio, de maior durabilidade da bateria que já não trabalha mais no limite como antes.
Boas qualidades
Essas modificações, no entanto, não alteraram o bom consumo e o bom desempenho do Passat.
Sua suspensão firme, sem prejuízo para o conforto, mesmo com carga garante boa estabilidade, com leve tendência a desgarrar de frente no limite — uma tendência fácil de corrigir.
Quanto ao conforto, o nível de ruídos é baixo e o espaço interno é bom para quatro pessoas. A terceira, no meio do banco de trás, não tem onde se segurar, como em todos os automóveis, e não se acomoda bem.
O motorista, no entanto, anda com conforto, no banco que segura bem seu corpo, todos os comandos bem colocados, o volante de diâmetro correto e boa visibilidade em todas as direções, além de bons cintos de três pontos auto-enroláveis.
Os freios funcionam muito bem e param o carro em espaços normais. Mas deveriam ser um pouco mais progressivos em altas velocidades. E o freio traseiro deveria ser equipado com uma válvula equalizadora, para evitar o travamento prematuro das rodas.
De todo modo, o Passat tem o equilíbrio e as boas qualidades de um carro com dez anos de aperfeiçoamentos.
Consumo e desempenho
O modelo que testamos, a álcool, estava equipado com o câmbio longo, isto é, com a quarta marcha mais longa. E o câmbio designado pela Volkswagen como 3 + E.
Esse câmbio opcional sem custo extra representa melhora de consumo e alguma perda de desempenho. Como a perda é pequena, vale a pena optar pelo câmbio longo.
Com o carro vazio, na estrada, a 80 km/h reais, apenas com o motorista, o Passat fez 12,08 km/l de álcool. No mesmo percurso, só que com carga máxima, ou seja, motorista mais 380 kg, o que corresponde a quatro pessoas de 80 kg mais 60 kg de bagagem, o consumo caiu para 11,19 km/l.
Na cidade, rodando apenas com o motorista, o consumo foi de 8,46 km/l de álcool.
Nas provas de velocidade, ele chegou à máxima 155,844 km/h reais na média de quatro passagens e de 157,549 km/h na melhor passagem. Em aceleração, foi de 0 a 100 km/h em 14,63 s e de 0 a 1 000 m em 35,76 s.
São números muito bons, mesmo para um carro com um câmbio econômico como é o caso do 3 + E. Mesmo no caso das retomadas de velocidade, o câmbio longo foi adequado. De 40 a 120 km/h, por exemplo, levou 35,58 s.
Isso ficou demonstrado também durante o teste de consumo com carga máxima: somente em subidas muito fortes ou quando um veículo mais lento atrapalhava o fluxo é que era necessário mudar para a terceira.
De qualquer modo, o ideal seria um câmbio com cinco marchas, que reunisse as relações do câmbio de série, com uma quinta equivalente à quarta do 3+E. Assim o desempenho melhoraria e se manteriam os bons níveis de consumo.
Resultados – Passat LS Village
Item | Avaliação | Nota |
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Desempenho | Apesar do câmbio longo, o desempenho da versão a álcool continua bom. A velocidade máxima foi de 155,844 km/h e a aceleração de 0 a 100 em 14,63 s. | 6 |
Consumo | Com o câmbio econômico, o consumo manteve-se em bom nível. Na estrada a 80 km/h vazio, 12,08 km/l; com carga, 11,19 km/l; na cidade, 8,46 km/l. | 7 |
Motor | Para a linha 1984, o motor do Passat não recebeu nenhuma modificação, a não ser no sistema de partida a frio, muito bom, que agora também é automático. | 6 |
Câmbio | O carro que testamos estava com o câmbio longo, com bons engates, como o de todos os Passat. Mas um com cinco marchas seria melhor. | 6 |
Freios | Sistema eficiente, com freios a disco na frente, tambor atrás com servo-freio. Param o carro em espaços normais, com segurança e sem desequilíbrios. | 6 |
Direção | O conjunto é bom, leve em manobras. Volante de diâmetro correto. O sistema de pinhão e cremalheira Ihe dá precisão mesmo em altas velocidades. | 7 |
Estabilidade | Como não foi feita nenhuma modificação, continua com as mesmas reações bem definidas: é neutro e sai um pouco de frente no limite de aderência. | 7 |
Suspensão | Apesar de ser uma suspensão firme, boa para a estabilidade, não compromete o conforto e não transmite barulhos mesmo em pisos ruins. | 7 |
Estilo | Depois de mais de dez anos com poucas modificações, e quase só na frente, seria conveniente a Volkswagen reestilizar as linhas já antiquadas. | 5 |
Acabamento | O cuidado com o acabamento, principalmente nas partes de plástico, parece que tem merecido maiores atenções para enfrentar a concorrência. | 7 |
Conforto | O espaço é bom, mesmo atrás. Só continua difícil o acesso, típico de carros duas portas. A renovação de ar é boa e os bancos firmes, mas confortáveis. | 6 |
Nível de ruído | O Village não é o mais luxuoso da linha, mas o nível de ruído mantém-se em níveis aceitáveis, a não ser em rotações muito altas do motor. | 6 |
Posição do motorista | É boa, com todos bem colocados, volante de bom diâmetro, visibilidade boa em qualquer direção e banco que segura bem o corpo. | 6 |
Instrumentos | Os essenciais. Deveria ter ao menos um conta-giros e ser complementado com algumas luzes-espia, como de combustível na reserva e freio de mão. | 5 |
Porta-malas | Revestido, com bom acabamento, capacidade para a bagagem de cinco pessoas. Só o estepe é que fica numa posição ruim: no assoalho, sob o tapete. | 4 |
Velocidade máxima na pista (km/h reais) | |
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Média de 4 passagens | 155,844 |
Melhor passagem | 157,549 |
Velocidade máxima nas marchas | ||
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Marcha | Velocidade (km/h) | |
1ª | 45 | |
2ª | 95 | |
3ª | 147 | |
4ª | 157 |
Aceleração | ||
---|---|---|
Variação de velocidade | Tempo (segundos) | Marchas usadas |
0 – 40 km/h | 3,30 | 1ª |
0 – 60 km/h | 6,33 | 1ª/2ª |
0 – 80 km/h | 9,60 | 1ª/2ª |
0 – 100 km/h | 14,63 | 1ª/2ª/3ª |
0 – 120 km/h | 21,83 | 1ª/2ª/3ª |
0 – 140 km/h | 33,77 | 1ª/2ª/3ª |
0 – 500 m | 22,76 | – |
0 – 1000 m | 35,76 | – |
Retomada de velocidade | ||
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Variação de velocidade | Tempo (segundos) | Marcha usada |
40 – 60 km/h | 8,43 | 4ª |
40 – 80 km/h | 15,82 | 4ª |
40 – 100 km/h | 24,66 | 4ª |
40 – 120 km/h | 35,58 | 4ª |
40 – 140 km/h | 49,99 | 4ª |
40 – 1000 m | 40,68 | 4ª |
Consumo a velocidade constante | ||
---|---|---|
Velocidade real (km/h) | Consumo (km/l) | Marcha usada |
40 | 14,33 | 4ª |
60 | 12,30 | 4ª |
80 | 10,89 | 4ª |
100 | 8,45 | 4ª |
120 | 7,48 | 4ª |
40 | 11,40 | 3ª |
Consumo médio | ||
Na cidade | 8,46 | |
Na estrada, a 80km/h, carregado | 11,19 | |
Na estrada, a 80km/h, vazio | 12,08 |
Espaço de frenagem | |
---|---|
Velocidade (km/h) | Distância (metros) |
40 | 8,85 |
60 | 20,30 |
80 | 36,15 |
100 | 52,60 |
120 | 74,15 |
Freio de estacionamento | |
60 | 44,50 |
Ficha técnica – Passat LS Village
Motor – Dianteiro, longitudinal, de quatro cilindros em linha, refrigerado a água. Comando de válvulas e válvulas de admissão e escapamento no cabeçote. Alimentação por um carburador de corpo duplo e fluxo descendente; a álcool. |
Diâmetro e curso – 79,5 x 80,0 mm |
Cilindrada total – 1.588 cm³ |
Taxa de compressão – 12,0:1 |
Potência máxima – 81 cv (59,6 kW) ABNT a 5.200 rpm |
Torque máximo – 12,8 mkgf (125,5 Nm) ABNT a 2.600 rpm |
Relações de marcha – 1ª) 3,45:1; 2ª) 1,70:1; 3ª) 1,07:1; 4ª) 0,78:1; diferencial, 4,11:1. Tração dianteira. |
Carroceria – Sedã, duas portas, cinco lugares, estrutura monobloco |
Suspensão dianteira – Independente, McPherson, com braços inferiores triangulares, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. |
Suspensão traseira – Eixo rígido com braços tensores longitudinais, barra diagonal Panhard, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos. |
Freios – A disco nas rodas dianteiras e a tambor nas rodas traseiras, com servofreio. |
Direção – Mecânica, de pinhão e cremalheira. |
Dimensões externas – Comprimento, 429 cm; largura, 160,0 cm; altura, 135,5 cm; distância entre eixos, 247,0 cm; bitola dianteira, 134,0 cm; bitola traseira, 134,2 cm; altura mínima do solo, 13,0 cm. |
Rodas – Aro 13 x tala 5 polegadas, de liga leve. |
Pneus – 175/70 SR 13 |
Capacidade do tanque – 60 litros |
Peso do carro testado – 910 kg |
Preço do carro testado – Cr$ 5.430.476,00 em outubro de 1983 |