Revista O Cruzeiro nº 27 – 3 de Julho de 1974
Reportagem de Fernando Calmon
O lançamento do Passat é o marco mais importante da existência da Volkswagen do Brasil, o maior fabricante de veículos do país. Enquanto o Brasília e o SP marcaram presença como projetos exclusivos da filial brasileira, o Passat ganha maior importância pelo fato de estar sendo lançado apenas um ano após a sua apresentação na Europa. Normalmente, as novidades da Alemanha demoram muito até chegar ao Brasil – a linha de modelo refrigerada a ar continua defasada em quatro anos -, mas o Passat começou a modificar este quadro.
O crescimento da VW brasileira colocou-a em posição de destaque dentro da Organização Mundial VW. Dentro de prazo médio, certamente os novos modelos serão lançados simultaneamente na Alemanha e no Brasil. Atestando o o nível de qualidade da produção nacional, caixas de câmbio fabricadas em São Bernardo do Campo equipam há alguns meses os Passat alemães, que já tem 250.000 unidades vendidas.
Novo conceito
O sucesso de vendas tanto na Europa quanto nos Estados Unidos veio comprovar o acerto das novas idéias trazidas por Rudolf Leidzig, que saiu do Brasil para comandar os destinos da VW Mundial. Sua tese era correta: deve-se dar ao mercado o que o mercado pede. E partiu para a diversificação de modelos, atendendo não só ao tradicional mercado de apreciadores de automóveis refrigerados a ar e tração traseira como os de refrigeração a água e tração dianteira.
O Passat é um sedã compacto de duas portas, traseira fastback, desenhado pelo estilista italiano independente Giorgio Giugiaro, motor dianteiro sobre o eixo de tração com quatro cilindros em linha, 1.500cm³, 78CV (SAE), refrigerado a água. Suas principais características são o peso reduzido, excelente performance, grande porta-malas, ótimo espaço interno e medidas exteriores reduzidas. Reúne ainda itens de segurança exclusivos, como a suspensão dianteira auto-estabilizadora, o duplo circuito de freios em diagonal e pára-brisas com a ilha de visibilidade.
Estilo
As linhas do Passat agradam por sua atualidade. Particularmente feliz é o desenho da parte traseira, semi-embutida, que ameniza a tendência moderna de traseiras curtas e volumosas. A frente é convencional com dois faróis redondos e grade em material plástico preto fosco. O único ponto de identidade com a atual linha VW-1600 são as lanternas direcionais embutidas nos extremos dos pára-choques dianteiros.
Um friso cromado na altura da linha da cintura envolve as duas laterais e a parte traseira. Grandes janelas, orifícios retangulares para eliminação do ar viciado nas colunas de trás, rodas de aço com oito furos trapezoidais e ausência de calotas completam o perfil do Passat.
As medidas externas são compactas: 4,18 metros de comprimento (menos 30 cm que o Corcel e 40 cm a menos que o Opala) por 1,6 metro de largura.
Conforto
A colocação do motor na frente do eixo dianteiro e a ausência do incômodo eixo cardã liberam bastante espaço no interior do Passat. Há duas versões de acabamento: L e LS, esta última mais requintada. O teto é revestido de pano-couro, e os painéis laterais têm revestimento de boa qualidade (na versão LS, com frisos cromados) e cinzeiros para os passageiros de trás. Os bancos são anatômicos e possuem travas de segurança nos encostos de fácil manuseio. O porta-malas tem espaço para 450 litros de bagagem, maior que o Opala.
A versão LS possui encosto que pode ser levado quase à posição horizontal, espelho retrovisor interno antiofuscante, relógio de horas, acendedor de cigarros com orifício iluminado, rádio de três faixas, lavador elétrico do pára-brisas com temporizador para os limpadores, e odômetro parcial retornável a zero. O painel de instrumentos é formado pelo velocímetro colocado logo acima da coluna de direção e, à direita, os marcadores de temperatura, gasolina e luzes de aviso da pressão de óleo, alternador e pisca-pisca. Na parte inferior do painel há outro cinzeiro e o porta-luvas.
Mecânica
Mecanicamente o Passat é um automóvel muito avançado. O motor de bloco em ferro fundido, quatro cilindros em linha, cinco mancais de apoio do eixo de manivelas e eixo de comando de válvulas único no cabeçote acionado pro correia dentada desenvolve 78 CV (SAE) a 6.100 rpm com torque de 11,5 mkgf a 3.600 rpm. O motor é inclinado para a direita a fim de permitir o rebaixamento do capô. A taxa de compressão de apenas 7:1 garante o uso de gasolina comum sem problemas.
O sistema de arrefecimento a água é inédito no Brasil. O radiador está colocado ao lado do motor e, quando a temperatura alcança 90 graus, um interruptor térmico aciona um ventilador elétrico. Além do melhor aproveitamento do compartimento do motor, a hélice do ventilador não precisa ficar acoplada ao virabrequim, roubando potência. O circuito de lubrificação inclui um filtro de óleo de fluxo total com válvula de segurança. O carburador de corpo único, 35mm, dispõe de dois sistemas de enriquecimento e abafador automático. A mistura ar-combustível é pré-aquecida nos coletores de admissão.
Este conjunto de propulsão oferece desempenho excelente, provavelmente o melhor entre os carros médios nacionais. Aceleração de 0 a 100 km/h em apenas 15,3 segundos e velocidade máxima de 150 km (dados de fábrica) se explicam pela relação peso/potência bastante favorável (11 kg/CV). O consumo de combustível se mantém em níveis reduzidos: 12 km/litro, a 3/4 da velocidade máxima, no plano e marcha constante.
Segurança
O VW-Passat é um dos automóveis mais seguros produzidos atualmente no país. Tem zonas de absorção de choques na frente e na traseira, coluna de direção do tipo retrátil e ilha de visibilidade que permite ao motorista dirigir com segurança mesmo com o pára-brisa estilhaçado.
O item mais importante está na suspensão dianteira. Os engenheiros da empresa recorreram à inclinação negativa do eixo de rolagem para obter efeito de auto-estabilização da direção. Graças ao raio negativo de rolagem não há perigo de desvios bruscos – ou mesmo cavalo de pau -, se uma roda de tração frear mais que a outra. Esta característica permitiu, ainda, adotar circuitos independentes de freios para uma roda dianteira e uma traseira, em diagonal. Isto garante 50% de eficiência em emergências. Os freios dianteiros são a disco com pinças flutuantes e pistão único.
A suspensão é moderna e colabora para a segurança ativa do Passat. Na frente, sistema MacPherson e barra estabilizadora. Atrás, eixo rígido com tubo de torção no interior, tensores longitudinais, barra Panhard, amortecedores telescópicos e molas helicoidais.
Meu sonho é ter um carro de cor de abóbora ou laranja.
Linda reportagem, valeu a reprodução.
Este passat da reportagem é um vermelho nobre, né? Cara, não vejo a hora de reformar o meu e a cor voltar a ficar tão viva.
O Vermelho Nobre passou a ser disponível em 1975. Como essas fotos antigas em geral tem alterações de cores, esse carro poderia ser até Ocre Marajó, com um pouco de boa vontade nossa… O único vermelho de 1974 era o Rubi, que me parece mais escuro que o carro da matéria.
Verdade, não me atentei ao ano da matéria. Deve ser Ocre Marajó mesmo.
Muito legal a lembrança e a reportagem. Obrigado por reproduzir.