A internet, desenvolvida a partir do final dos anos 1960 e popularizada nos anos 1990, nem sempre foi vista com bons olhos como fonte e referência de informações. Será que podemos realmente confiar em tudo o que lemos sobre Passat? Na rede desde 1996, a Home-Page do Passat concentra a maioria das informações publicadas em revistas especializadas disponíveis sobre o Volkswagen Passat nacional. Para ter uma idéia do pioneirismo sobre o tema, até na esfera internacional eram escassas as informações disponíveis na internet à época.
Há muitos anos envolvidos com o tema Passat na internet, não é difícil ouvir alguém dizer que “o Passat nacional mais raro é o Passat Pointer GTi”. Pior ainda é ver a quantidade de gente concordando ou até dizendo que o carro é “muito lindo”. Basta procurar no site alguma informação sobre versões do Passat e não encontramos a referida versão “Pointer GTi”.
A sigla GTI
Nascido a partir de estudos feitos por engenheiros alemães pelo ímpeto de criar algo diferente e divertido, o Golf GTI recebeu o aval da empresa e passou a ser comercializado em 1976. À época eram poucos os carros compactos que conseguiam fazer de 0 a 100 km/h em menos de 14 segundos. Sucesso de público e de crítica, o Golf GTI criou um nicho de mercado, os Pocket Rockets, pequenos foguetes que deixavam muito carro esportivo vermelho de raiva, pois era uma nova e ágil forma de diversão.
O culto pela sigla GTI fez com que os demais fabricantes colocassem a técnica à prova e temperassem mais seus compactos, dando a eles mais que um punhado de adesivos. Lá veio a Sunbeam com um pacote Lotus, a Vauxhall e seu apimentado Chevette 2300 HS, além do lendário Peugeot com a sigla GTI e um motor de 1900 cm³.
Um Passat GTI alemão
Tal qual a lenda brasileira, em 1977 um diretor da VW AG pediu à engenharia um modelo especial. Tratava-se de um Passat GTI, usando elementos mecânicos já presentes no Golf e Scirocco esportivos e aplicando um belo tom de azul, que por coincidência surgiu em 1984 no Brasil, por meio do Voyage Los Angeles. O modelo não passou de um protótipo, nunca sendo colocado no mercado, e encontra-se no museu da VW na Alemanha.
O que acontecia na Ala 0 e na engenharia da fábrica brasileira da VW
A fábrica da VW no Brasil recebeu alguma autonomia nos projetos no final dos anos 1960, de onde surgiram projetos que não encontravam similares no resto do mundo. Dos mais notáveis, o SP2 e o Brasilia. Isso fortaleceu o investimento na engenharia nacional da fábrica e muitos produtos foram desenvolvidos aqui, entre eles a linha Gol e derivados.
Segundo funcionários da empresa, entre erros e acertos, era comum saírem protótipos da engenharia que sequer chegavam a ser divulgados. Alguns eram apresentados nos salões do automóvel e estudos de carros de linha circulavam pelas ruas da fábrica 1.
O marketing requisitava projetos à engenharia, com acabamentos, pinturas e equipamentos experimentais para serem apresentados em clínicas com consumidores. Os protótipos que tinham numeração de chassis, eram vendidos depois de serviços prestados. Aqueles que não poderiam circular nas vias públicas viravam sucata.
Da Ala 0, saíam alguns carros especiais, geralmente dos funcionários, diretores, gerente e demais pessoas envolvidas com a fábrica. Os trabalhos eram tão interessantes que há casos especiais, encontrados na linha Santana. Bom exemplo era a resistência da VW até 1986 em fornecer o Santana na cor branca. Vemos alguns exemplares sobreviventes, a maioria destinados à diretoria e pedidos especiais de revendedores obtidos após muito custo.
No mesmo sentido, a Santana Quantum CD. As únicas versões oferecidas ao público eram CS e CG. A própria fábrica liberou um lote de produção de uma Santana Quantum na versão CD, destinado em parte aos pedidos de revendedores (que não cobravam barato por isso) ou incorporada pela frota e usada pela diretoria, posteriormente vendida aos funcionários após alguns anos de serviços prestados.
Um dos poucos protótipos com o Passat que se tem notícia foi um LSE 1985 na cor Cinza nobre, com motor 1.8, teto solar Karmann Ghia e câmbio automático do Santana. Esperamos obter mais informações sobre ele.
Era comum ver Parati 2.0, Passat GTS Pointer com direção hidráulica e inúmeros VW Fox para exportação circulando na frota da fábrica, todos obras da Ala 0. Entre esses carros, a obra da engenharia, o projeto BY. Um Gol com traseira diferente e mais compacto, que chegou a ser divulgado em publicações da época mas nunca foi para linha de montagem.
Afinal, a Ala 0 ou a engenharia fizeram algum Passat Pointer GTi?
Funcionários que vivenciaram essa época relatada na lenda foram entrevistados pelos editores deste site e afirmam nunca terem visto sair da Ala 0 ou da engenharia qualquer coisa parecida com um Passat travestido de GTi. O Passat já era um projeto esquecido pela Volkswagen, tanto que no salão do automóvel de 1988 ele poderia ser visto pelo público com três rodas de liga e um estepe com roda preta. A novidade era o Gol GTi.
Diz a lenda que 10 modelos foram produzidos pela Volkswagen e entregues à diretoria. Caso estes 10 exemplares tivessem sido produzidos, é de se esperar que pelo menos um teria aparecido em algum canto do Brasil. Para se ter uma idéia, o IBAP Democrata, um carro fabricado apenas para protótipo na década de 1960, sobreviveu com pelo menos duas unidades conhecidas.
Outro carro, o FNM Onça que das cinco unidades produzidas, sabe-se de pelo menos duas. Sem contar o Puma GT 4R, um carro dado como desaparecido após o sorteio de 1970 com apenas um sobrevivente encontrado nos anos 1990, que em pouco tempo na última década e com a popularização da internet, foi possível encontrar não só as outras duas unidades sorteadas pela revista, mas até um 4º carro feito para uso pessoal de seu idealizador.
Por fim, um protótipo Willys Interlagos feito para uso de seu presidente foi encontrado em 1993 e hoje é preservado. Não seria estranho que após mais de 10 anos dessa lenda, ainda não tenha surgido nenhuma foto de época e nem algum sobrevivente desse tal Passat Pointer GTi?
A resposta é simples, amigos: nunca houve um Passat Pointer GTi fabricado pela Volkswagen do Brasil.
Você pode até ver algum Passat de para-choques envolventes com a maior parte inferior pintada de prata e com algum adesivo GTi. Isso não passa de personalização feita pelo dono, a maioria de gosto duvidoso. Embora a história tenha elementos verdadeiros como todo hoax, sem dúvida é uma pena que os objetivos da fábrica distanciavam-se do Passat B1.
Sabe-se que a Ala 0 não tinha acesso restrito, como era na engenharia. Na época era habitual montar grupos para visita à fábrica, o que hoje é restrito apenas a pessoas envolvidas com a fábrica ou que trabalham com a venda de veículos da marca. É de se estranhar que ninguém que tenha participado do dia a dia da empresa não tenha informações sobre esse modelo. No mito há o relato que os carros foram fabricados e entregues aos diretores. Se assim fosse, teria sido divulgado internamente e seria digno de um evento ou solenidade de entrega.
Portanto, não é plausível que esse carro tenha sido produzido em razoável quantidade e entregue a diretores. Alguém teria visto na fábrica, alguém teria participado do desenvolvimento ou algum exemplar estaria numa coleção.
Uma projeção do Passat Pointer GTi
Na ilustração de Saymon Machado, uma projeção do que seria o Passat Pointer GTi segundo a lenda. A cor: Azul Mônaco. Motor: 2000 com injeção eletrônica multiponto. Interna: tecido com detalhes em azul, bancos Recaro, volante e manopla revestidos em couro, iluminação vermelha. Para-choques com pintura em preto e prata e logotipo lateral e traseiro com o logo “Passat Pointer GTi“.
Artigo originalmente publicado no blog da Home-Page do Passat, julho de 2012.
Agradecimentos: Cláudio P. Pessoa, Marcelo Nadólskis e Saymon Machado.
Há dez anos atrás tive a oportunidade de ver e examinar um passat Pointer dos últimos 89/89 que era verde tinha motor 2.0 com ar condicionado e direção, vendo inclusive a N F e nela constava a motorização 2.0 e o ar e direção.O Sr que estava vendendo disse que era um dos últimos fabricados, este carro ficou anunciado durante uma semana e foi vendido, segundo soube.Não tive mais notícias dele.O auto Estava em Copacabana R.j
Essas coisas são complicadas. Na concessionária era possível comprar o motor separadamente e instalar, assim como algumas faziam a instalação da DH. Porém isso nunca foi oferecido de fábrica para o Passat. O modelo certamente constava como 89/89 por ter sido vendido e registrado em 89, como aconteceu várias vezes. Mas a produção mesmo se encerrou em dezembro de 88.
Seria interessante saber o paradeiro desse carro ou pelo menos algum dado (placa, por exemplo) pra gente tentar correr atrás das informações.
Já fui ao prédio, onde vi o carro, o porteiro era o mesmo disse que o Dono do carro, se mudou algum tempo depois de ter vendido o carro, pedi referências ao porteiro, mas ele não soube me informar o paradeiro, segundo ele se lembra o carro foi vendido para sp e foi embora de cegonha.
Ótimo artigo.
PS:
Faltou um “menos” nessa frase!!
“sobreviveu com pelo duas unidades conhecidas”
Opa, valeu! Corrigido!
adorei ter descoberto a HP do passat tenho um 75 preciso do tabelier os bancos e laterais e painel interior todo o meu esta com de gol g3 socorro
Nossa peguei meu primeiro passat…e nao sabia da historia desse guerreiro!!!quero participar de td o que fizerem….tenho um passat gts preto
Estou tentando restaurar o Passat Iraquiano como o da capa da Home Page no qual meu avô comprou zero Km em 1986 e está largado num terreno há 3 anos. Há uma norma do Contran que carros não vistoriados e/ou licenciados há 10 anos terão seu Renavam e chassis dado baixa em seu Detran correspondente. Alguém sabe se teve uma reviravolta ou se há um jeito de resolver sem usar despachante?
Ótima matéria , lembro no início dos anos 2000 era comum a tal lenda do Passat GTi e a história sempre girava em torno de um japonês que pertencia a diretoria da VW, e o mesmo ficcou com um dos dez modelos produzidos e guardava a sete chaves.
Aliás vale lembrar que não só o Passat, mas nos fórum circulava a história de um lote de dez Chevette com motor de Kadett GSi , painel digital , teto solar e bancos recaro .
Tenho iraquiano 1987, top, porém estou colocando direção hidráulica e estou atrás do ar condicionado. Mas e uma relíquia, 220 mil km original. Banco veludo, perfeito.