Os exemplos de versões produzidas no Brasil exclusivamente para exportação não são raros. Isso acontece por fatores como as peculiaridades do mercado de países que exigem determinadas características, ou mesmo por questões de legislação ou da baixa aceitação pelo mercado brasileiro. A Brasília de 4 portas, por exemplo, foi produzida durante alguns anos no Brasil sem que ela fosse oferecida no mercado interno. Apenas na linha 1979 o modelo chegou nas concessionárias brasileiras, sem fazer sucesso.
Já nos anos 80, o Voyage exportado para os EUA e Canadá recebeu inúmeras modificações, incluindo injeção eletrônica, e foi rebatizado como Fox. O próprio Passat tem seus exemplos: o modelo 5 portas nunca foi oficialmente oferecida por aqui, tornando raros os exemplares que ficaram no Brasil. As versões produzidas com exclusividade para a Nigéria e o Iraque só chegaram ao consumidor brasileiro por excedentes de produção que não puderam ser exportados.
E apesar de estarem disponíveis no nosso mercado por um curto período, eles continuaram a ser produzidos para os seus países de destino até 1988. Por outro lado, uma das versões do Passat nunca pôde ser comercializada por aqui: o Passat a diesel.
O uso do diesel em carros de passeio foi proibido no Brasil em novembro de 1976, pela portaria 346 do extinto Ministério da Indústria e Comércio. Na época, os esforços no Proálcool estavam a pleno vapor e o objetivo era que o álcool substituísse a gasolina como um combustível alternativo de menor custo. Atualmente a portaria em vigor é a 23/1994 do também extinto Departamento Nacional de Combustíveis.
Pelo texto, nenhum veículo de carga, passageiros ou misto, com capacidade de carga inferior a 1000kg pode utilizar o combustível. Ficaram de fora os veículos de tração integral, motivo pelo qual temos hoje diversas pick-ups e SUV’s a diesel, mesmo com capacidade de carga inferior. Mas não é sobre isso que nosso artigo se dispõe a tratar.
O motor do Passat Diesel
Voltando ao Passat, o motor que equipava as versões diesel foi baseado nos primeiros 1.6 (BS). Algumas matérias de época usam o termo “dieselizado” para explicar que o motor originalmente a gasolina foi adaptado para o novo combustível. Este motor apresentava algumas características visuais e técnicas que o diferenciava da versão a gasolina. A que mais se destacava era a grande câmara de admissão acima do coletor, substituindo o (então desnecessário) carburador.
A admissão de combustível passava a ser realizada por uma bomba injetora produzida pela Bosch. Essa bomba era acionada pela correia dentada e injetava o combustível diretamente nos cilindros, onde originalmente se encontravam as velas de ignição.
O cabeçote do motor era visualmente diferente, com a entrada de água passando para o espaço entre os 3º e 4º cilindros, como foi posteriormente utilizado nos AP. Seu código era BE e rendia, segundo a literatura da própria VW, 50 cv (DIN) a 4500 RPM. A taxa de compressão, em razão do novo combustível, era de 23,5:1.
Como não é novidade, este motor passou a equipar não apenas os Passat destinados a exportação, mas também a Kombi. Devido a sua capacidade de carga, a Kombi estava fora da proibição da legislação e por conta disso era oferecida no mercado interno, ao contrário do Passat.
A primeira menção que encontramos sobre a produção dos motores diesel para os Passat brasileiros é do Jornal do Brasil do dia 22 de dezembro de 1978. O título da matéria era “Volkswagen fará motor diesel em 1979”. O texto trazia apenas uma frase do então Diretor de Produção da VWB, Sr. Gerhardt Eckof, sobre as intenções da montadora passar a produzir os motores Passat a diesel para exportação e acreditava que até o fim de 1979 o governo permitiria a circulação de táxis a diesel no Brasil, com o objetivo de economizar combustível.
Não conseguimos nenhuma informação concreta e confiável sobre a produção destes motores para exportação até fevereiro de 1981. No dia 11 deste mês, o Diário do Paraná trouxe uma declaração de Bernhard Eland, Diretor de Vendas da VWB. Ele informava que a partir do segundo semestre daquele ano a montadora começaria as exportações dos Passat e Kombi movidos a diesel.
Poucos meses depois, em agosto do mesmo ano, o jornal O Poti, do Rio Grande do Norte destacava: “Uruguai compra 900 Passat Diesel”. A matéria informava também que esta era a primeira compra de VW brasileiros movidos a diesel pelo Uruguai, e que os veículos seriam destinados a renovação da frota de táxis do país.
Com relação ao material oficial da Volkswagen do Brasil sobre estes modelos, tivemos acesso a dois catálogos de divulgação para exportação, ambos em inglês. O primeiro é de 1982, sendo específico para o modelo a diesel, sem citar versões ou opcionais. Todo o folder é baseado em especificações técnicas do motor, suspensão, parte elétrica, entre outros. O texto fala que o Passat Diesel é o carro ideal para a família, para ir ao trabalho ou para frotas. E destaca o silêncio e economia do motor 1.6 com injeção indireta.
Já o segundo catálogo é destinado aos modelos 1984 e, desta vez, cita diferentes versões disponíveis. Além dos Passat LS, GLS, LSE e GTS (notem a disponibilidade do GLS para exportação neste ano, além da falta das denominações Village e Pointer), também era possível comprar os Passat LD, GLD e LDE. Por motivos óbvios, apenas a versão esportiva GTS não contava com uma versão movida a diesel.
As especificações técnicas do folder indicam que os modelos a gasolina pesavam 30kg a menos e utilizavam uma bateria de menor amperagem. Fora esses detalhes e a parte mecânica, tudo indica que as versões gasolina e diesel de mesmo nível de acabamento eram idênticas. Apesar das diferenças de desempenho, todas as versões utilizavam as mesmas relações de câmbio.
O teste da revista Motor 3
Em 1983, a revista Motor 3 testou uma unidade do Passat LDE. Os resultados foram publicados em sua edição nº 31, de janeiro daquele ano. Com o subtítulo “Ah, se o governo deixasse! ou Explicando o inexplicável!”, a matéria assinada pelo jornalista José Luiz Vieira trazia as impressões ao dirigir do modelo que nunca chegaria ao público brasileiro.
A começar pela inusitada situação no posto, ao parar ao lado da bomba de diesel e chamar a atenção de vários curiosos. Entre eles, dois motoristas de táxi que saíram incrédulos ao saberem que o carro era uma unidade apenas para testes e que não poderia ser comercializada por aqui.
A matéria destacava as semelhanças em quase todos os aspectos com o modelo a gasolina. Exceto, claro, a partir do momento em que o carro é ligado. Pra começar, ao girar a chave com o motor frio é necessário mantê-la na posição “Ligado”. Uma lâmpada no centro do painel, na mesma posição da luz-espia que avisava sobre o baixo nível de gasolina no reservatório de partida a frio dos modelos a álcool, indicava a atuação das velas de aquecimento. Elas aquecem a câmara de combustão, preparando o motor para o funcionamento.
A espera pode levar 10 segundos ou mais em situações de muito frio. A partida só deve ser dada quando a luz-espia se apagar. Se necessário, a injeção deve ser avançada, girando-se um botão ao lado do cinzeiro.
O motor é mais barulhento na partida do que o seu similar a gasolina ou álcool, o que é absolutamente normal. A matéria relatava, entretanto, que este barulho só era notadamente maior enquanto o motor estava frio. Com o tempo, o barulho só era notado do lado de fora do carro. E o acabamento acústico do carro, principalmente com os vidros fechados, era bem eficiente.
Seu desempenho lembrava muito o de um LS comum. Se não era um carro muito rápido, também não chegava a ser lento. Suas acelerações eram suficientes para ultrapassagens normais seguras e para acompanhar o tráfego da cidade. E o consumo, claro, era o que mais agradava. Após rodar 622 km, o jornalista abasteceu o carro e teve a surpresa: 15,9 km/l. O custo por km rodado, na época, poderia chegar a ser cerca de 3 vezes menor do que o mesmo custo para um Passat a gasolina.
Os números de desempenho e consumo obtidos neste teste se encontram abaixo.
Desempenho Geral |
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Passat LDE 1.6 diesel | Passat GLS 1.6 gasolina | Passat LS 1.6 álcool | |
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0 – 100 km/h | 20,13 segundos | 15,04 segundos | 13,06 segundos |
0 – 400 metros | 20,99 segundos | 18,87 segundos | 18,38 segundos |
0 – 1000 metros | 40,99 segundos | 35,70 segundos | 34,55 segundos |
40 – 80 km/h | 8,06 segundos | 7,14 segundos | 5,93 segundos |
80 – 120 km/h | 16,19 segundos | 12,84 segundos | 10,92 segundos |
Velocidade Máxima (média) | 139,42 km/h | 156,40 km/h | 161,61 km/h |
Velocidade Máxima (melhor passagem) | 140,71 km/h | 163,04 km/h | 163,80 km/h |
Frenagem: 100 – 0 km/h | 41,0 metros | 41,4 metros | 40,6 metros |
Consumo de combustível |
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Passat LDE 1.6 diesel | Passat GLS 1.6 gasolina | Passat LS 1.6 álcool | |
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Urbano pesado | 14,98 km/l | 8,75 km/l | 6,71 km/l |
Urbano leve | 15,94 km/l | 9,30 km/l | 7,49 km/l |
Média Urbana | 15,46 km/l | 9,02 km/l | 7,10 km/l |
Custo km rodado* | Cr$ 5,43 | Cr$ 15,96 | Cr$ 11,83 |
Estrada vazão rápida | 15,25 km/l | 11,31 km/l | 8,77 km/l |
Média estrada | 16,62 km/l | 13,41 km/l | 10,33 km/l |
Custo km rodado* | Cr$ 5,05 | Cr$ 10,73 | Cr$ 8,13 |
Autonomia em viagem | 997 km | 804 km | 620 km |
* Calculados conforme o valor do combustível na época, sendo Cr$144 o litro da gasolina e Cr$84 o litro do álcool e diesel.
Somados todos os prós e contras do Passat a diesel apresentados neste artigo, fica a certeza de que esta seria mais uma boa opção para o mercado brasileiro. Seja para o uso pessoal ou como táxi, o modelo contemplava plenamente as exigências de determinados perfis de consumidor que, infelizmente, não foram atendidos devido a legislação que vigora até hoje.
Sorte do resto do mundo…
A maioria dos Passats que eu vi nas minhas idas ao Uruguai eram justamente da versão LDE. A propósito: considerando que esse motor, de injeção indireta, tem boa adaptabilidade ao uso direto de óleos vegetais como combustível alternativo, chegava a ser de se estranhar que os militares não tivessem atentado a essa possibilidade e ao menos esboçado um programa destinado à substituição parcial do óleo diesel convencional em moldes semelhantes aos do ProÁlcool.
Tengo uno de ese modelo desde hace 15 años…máquina fiel si las hay.
Caros, estou com um Passat ano 1983/1983 duas portas a diesel, motor BE.
Nos documentos consta Diesel e sem a informação .modificado combustível. que é normal
quando modifica o tipo de combustível como de gasolina para GNV ou diesel. Nesse caso
acho que é originalmente diesel da fabrica. Porém estou em duvida pois se o Passat
só foi fabricado a diesel para servir como taxi não ia ter o modelo duas portas.
Alguem poderia me informar mais sobre a minha dúvida?
att;
Georg Plantenga
georgplantenga@hotmail.com
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