A edição 284 da revista Auto Esporte, de dezembro de 1988, anunciava na coluna Opinião o fim da produção do Passat. “O Passat passou“, dizia o título da coluna, de autoria de Raul Machado Carvalho, que trazia uma análise fria sobre o que havia acontecido para que um carro de excelente custo/benefício e ainda querido entre os proprietários viesse a ter sua produção encerrada. O fato é que o Passat foi um dos poucos exemplos de carros brasileiros que tiveram o encerramento da sua produção lamentados pelas principais revistas especializadas.
O Passat passou
“Um dos melhores carros do Brasil foi condenado. Quatorze anos depois do início de sua produção, o Passat perdeu o fôlego, embora mantenha ainda um alto conceito entre seus proprietários. Mas o mercado decidiu e contra tal sustentação não há defesa possível. Em dezembro último, o Passat saiu de linha.
E como aconteceu isso? Talvez a situação tenha sido provocada pela estratégia da própria fábrica, ao ver no Passat um pequeno rival ao deslanchar do Santana. Assim, o fabricante permitiu que seu preço fosse se superpondo ao do Santana, lançado em 1984 e, aos poucos, os consumidores foram dando preferência a este último. Foi mesmo uma questão de canibalismo. Ao se situarem na mesma faixa de preço, a luta ficou desigual.
Aliás, o modelo GTS Pointer custa até mais caro que o Santana CL 4 portas – uma incoerência mercadológica. Mas, no caso, proposital. Assim, foi puxado o tapete persa do Passat, um carro que vinha se sustentando desde 1974 e ainda agradando a muita gente. Afinal, estamos no Brasil, terra de grande longevidade para os veículos.
Todavia, no caso específico do Passat correram lágrimas, pois sua relação custo/benefício era excelente. Embora com design antiquado, seu conjunto mecânico era excelente e sua performance tão boa quanto à do Gol GTS, um dos mais rápidos do país, derrotado somente agora pelo seu irmão de injeção eletrônica.
O interessante da história do Passat é que na Alemanha, quem saiu de linha – rapidinho, aliás – foi o Santana (talvez por ter seu preço muito próximo ao do Audi) e quem sobrou, com enormes alterações é verdade, foi o Passat. A linha Passat germânica é composta do próprio modelo sedan, igual ao nosso Santana, e do Passat Variant (nossa Quantum), enquanto a conhecida versão “hatch-back” desapareceu.
No Brasil, ele se sustentou enquanto havia a garantia dos contratos de exportação firmados com o Iraque. Mas agora, os árabes se desinteressaram pelo modelo e se por acaso reativarem os negócios, eles serão com a linha BX – Gol / Voyage / Parati – ou até mesmo a linha Santana. Mas, a defasagem cambial praticada atualmente certamente alijará qualquer hipótese de novas exportações, pois qualquer coreano ou japonês distraído que passar pelo deserto da região certamente terá preços mais competitivos que os da Volkswagen do Brasil.
Com mais de 14 anos de participação e cerca de 680.000 unidades no mercado doméstico e outras 220.000 no exterior, o Passat alcançou seu “pico” de vendas em 1979 com 100.000 unidades comercializadas, ou seja, 12% do mercado nacional na época. Em 1988, com a venda de 3.958 veículos entre janeiro e setembro, ele atingiu apenas um por cento do mercado e não lhe restou outro destino, senão a interrupção da produção de um dos melhores carros que o país já teve. O Passat passou.”
Triste