O texto a seguir foi publicado na edição nº 116 da revista Auto Esporte, em junho de 1974.
A expectativa do mercado pela apresentação do VW-Passat no dia 21 de junho foi muito bem explorada pela fábrica nos meses que antecederam o lançamento oficial, chegando a deixar alguns pretendentes “alucinados” para receber o automóvel. Um dos porteiros da empresa, em São Bernardo, contou que em certo dia de maio um senhor se apresentou à Portaria querendo falar com alguém do Departamento de Vendas. Assunto: comprar um Passat. Para provar que não estava brincando, o cavalheiro abriu a pasta e, reservadamente, exibiu quarenta mil cruzeiros para pagar. Cash . E queria levá-lo na hora.
O caso deste homem é apenas um exemplo da excitação dos compradores tradicionais da marca Volkswagen. Um número enorme de aficionados incondicionais do símbolo VW fez sua reserva nos revendedores, como o cavalheiro deste caso teve de fazer. Isto é: eles compraram sem ver e sem tocar o Passat. Convencidos de que estão comprando um bom carro? Ou simplesmente obcecados para a compra devido à promoção em torno do automóvel?
Divulgar
Quando percebeu que era inútil tentar fazer segredo do VW-Passat, pois o próprio Sr. Rudolf Leiding, presidente mundial da Organização, abrira o jogo, a Volkswagen do Brasil passou a emitir uma série de reportagens mostrando passo a passo as providências para a fabricação e os testes do novo automóvel. Um trabalho bem bolado e bem executado pelo Departamento de Imprensa, que pôs o Passat em evidência permanente diante da opinião pública. Daí a excitação de muitos, que não viam a hora de adquirir o veiculo.
Testes na pista
Em reportagem com fotos, a Volkswagen contou como são feitos os testes na pista de provas da sua Fábrica 11, onde era a Vemag. no bairro do Ipiranga. em São Paulo . São 1.100 metros de pista que oferecem todos os tipos de pavimentação e de defeitos que se pode encontrar em ruas e estradas. Aliás, neste ponto os saudosistas da Vemag podem se orgulhar: realmente essa pista, a despeito de sua pequena extensão, oferece condições perfeitas para testes de durabilidade de cada parte do automóvel.
Para esses mesmos saudosistas, o Passat, com sua tração dianteira, com o motor de 4 cilindros, 4 tempos, refrigerado a água, colocado na frente, é uma evolução de um projeto que chegou a ser feito na Vemag em colaboração com a Auto-Union. Esse mesmo projeto, que resultou no Audi, não foi levado adiante na ocasião (1963/65), porque a Auto-Union foi comprada pela Volkswagen e depois também a Vemag foi absorvida por essa empresa (1966/67). Depois, o Audi, com essas características, foi lançado na Alemanha com muito sucesso e era candidato a ser produzido aqui, quando o Passat (aproveitando idéias básicas do Audi e outras novas) tomou o seu lugar.
Câmbio de exportação
No final de abril, a Volkswagen já estava fabricando em São Bernardo cem caixas de câmbio por dia do Passat destinadas à exportação para a Alemanha. Em maio, o programa de produção de caixas completas chegou a quinhentas unidades diárias e deverá chegar a mil e cem até o fim do ano. Com esse número, a VWB vai atender ao abastecimento da linha de montagem do Passat brasileiro e exportar o excedente para a Alemanha, que será da ordem de dez mil caixas de câmbio por mês, para serem peças originais do Passat germânico.
Torturas
Na metade de maio, a Volkswagen anunciava que o Passat estava na “Sala de Torturas”, paralelamente aos testes de rodagem a que vinha sendo submetido em estradas de todo o país. É o desenvolvimento do programa dos chamados “testes estacionários”, que visam avaliar a durabilidade dos materiais e o perfeito funcionamento de peças isoladas ou atuando em conjuntos vitais para o bom desempenho final do carro.
Estrada simulada
Dentre os equipamentos de maior emprego nos testes estacionários e que a Volkswagen do Brasil praticamente inaugurou com o projeto da VW-Brasilia. Está o hidropulsador. A máquina, dotada de um complexo sistema hidráulico de controle eletrônico, é capaz de simular condições normais de rodagem ou situações tão extremas que dificilmente o VW-Passat brasileiro enfrentará quando estiver à disposição do público.
De acordo com o programa de testes previamente estabelecido, o hidropulsador submete o carro a terríveis esforços e torções seqüenciados, que possibilitam uma exata avaliação da durabilidade dos elementos estruturais da carroceria e da suspensão e ainda o nível do conforto e ruído.
Na verdade, a sofisticada máquina funciona em complementação às provas de rodagem, com a vantagem de que permite a execução e controle dos testes em laboratório e a sua repetição conforme as necessidades. Além disso, proporciona aos técnicos algo insubstituível: a oportunidade de ver o comportamento de cada um dos componentes da estrutura do carro e do conjunto como um todo. Com o veículo rodando em situação normal, é impossível ao piloto observar, por exemplo, o que está acontecendo com os amortecedores, molas, eixos, borrachas, etc. Impossível, também, mesmo para o mais experiente dos volantes, é reproduzir duas vezes idêntica situação de tráfego numa mesma estrada.
Chuva artificial
A maior parte dos dispositivos para testes de durabilidade dos componentes dos VW brasileiros resultou de trabalho de pesquisa e experimentação da “Oficina de Projetos e Construção de Aparelhos de Testes” da chamada Fábrica 2 da Volkswagen (antiga Vemag). Entre esses engenhosos e práticos dispositivos, exige um especificamente para testar o sistema do limpador de pára-brisa. Sobre um pára-brisa comum, no qual um “chuveiro” de funcionamento automático despeja jatos de água, as palhetas deslizam durante cinco minutos e meio sobre a superfície molhada, inicialmente na primeira velocidade (45 rpm).
Depois a água deixa de correr e as palhetas movimentam-se sobre o vidro seco por meio minuto, seguindo-se uma parada rápida e o reinicio de tudo novamente de modo automático. Esse teste tem a duração normal de 500 horas – 300 na primeira velocidade e as horas restantes na segunda velocidade (65 rpm) – e serve para avaliação do funcionamento e resistência à fadiga de todas as peças do conjunto, desde o braço, a fixação das palhetas, até o motor de acionamento. Este último ainda passa por outros testes específicos num dinamômetro para verificação de torque e qualidade dos materiais elétricos empregados na sua montagem.
Um banco à prova de tudo
Os bancos do VW-Passat também estão sendo testados intensivamente em situações tão extremas que provavelmente nunca se repetirão em condições de uso normal. O dispositivo de “tortura” é simples e eficiente: um bloco especial de 50 kg, com a superfície aquecida à temperatura de 40°C, desce e sobe pressionando o banco na freqüência de 3.600 ciclos por hora. O. teste avalia a durabilidade não só do plástico de revestimento, como o estofamento, as molas e toda a armação dos bancos. O programa aplicado é de 1 milhão de acionamentos, fazendo-se paradas a cada três horas para verificação de eventuais danos.
Abre-te porta
Outro exemplo característico do grande campo de aplicação dos testes estacionários é dado pelo dispositivo que testa a eficiência e segurança dos trincos das portas. Sem ele, só o uso prolongado do veículo poderia indicar correções e aperfeiçoamentos. Porém, isso seria impossível no caso do VW-Passat, pois o carro ainda nem entrou na fase da produção seriada. O aparelho sozinho e simultaneamente reproduz os movimentos de abertura e fechamento das portas, do capô e do porta-malas, conseguindo em poucos dias o total de 100 mil acionamentos dos trincos.
Uma verdadeira história do passat, que poucos conhecem. Detalhes importantes.Show. Gostaria de saber de oficinas de restauração e manutenção do passat no Grande Rio.