Hoje, dia 9 de novembro de 2018, começamos o dia com uma triste notícia: perdemos José Roberto Nasser, um dos nomes mais marcantes do antigomobilismo brasileiro. Além de um importante colecionador, guardião de peças raras como o Itamaraty Executivo, FNM Onça, entre outros, também foi o fundador do Museu Nacional do Automóvel, em Brasília, participou da fundação do Veteran Car Club – DF e da Federação Brasileira de Veículos Antigos, sendo o primeiro presidente da entidade.
Vale ressaltar também que Nasser defendia, desde o início dos anos 70, a criação de uma placa especial para os veículos antigos de coleção, que já naquela época sofriam com a dificuldade de emplacamento pela falta de equipamentos de segurança obrigatórios, porém inexistentes nos automóveis do início do século XX. Acabou se tornando o “pai” da placa preta, que contamos brevemente nesta matéria da Home-Page do Passat. Além de advogado, José Roberto Nasser atuava a décadas como jornalista da área automobilística e até hoje escrevia sua coluna De carro por aí.
Como forma de homenageá-lo, publicamos abaixo a primeira de uma série de matérias que José Roberto Nasser publicou ao longo de algumas semanas no jornal Correio Braziliense, abordando o lançamento do Passat no Brasil, e passando também pela sua história na Alemanha. A primeira destas matérias foi publicada no dia 25 de novembro de 1973, quase 45 anos antes de sua passagem.
Volks Passat: a história de um lançamento
A Volkswagen do Brasil já tem data certa para a apresentação do Passat, seu lançamento de 1974. Será a 1º de maio, quando a fábrica começará a entregar este automóvel inteiramente diferente do que produz no Brasil e iniciará suas vendas e a consequente sustentação com a veiculação de uma violentíssima verba de publicidade.
Necessariamente a VW não precisaria utilizar tal soma somente para vender uma boa manobra de marketing, um novo produto, eis que na atual situação de mercado, de carência total de automóveis e deslumbramento completo dos compradores, até o Simca e o DKW se voltassem a ser produzidos amanhã, seriam vendidos não apenas aos saudosistas, mas aos que precisam de um automóvel novo como prova de afirmação econômica.
Fosse uma outra fábrica que surgisse de repente às margens da Via Anchieta e lançasse um novo produto, a concentração de anúncios talvez não se processasse com tanta intensidade com tanta intensidade, mas no caso da Volkswagen isto se faz necessário. Isto, porque, depois de 17 milhões de Volkswagens vendidos, de desfrutar de uma situação invejável no consenso da indústria automobilística mundial, os executivos de Wolfsburg, sentados em seus escritório de decoração teutônica, concluíram a necessidade de uma reformulação para a manutenção dos índices de venda de seus produtos.
E um balanço de tendências e possibilidades trouxe como solução a fabricação de um automóvel de características modernas, palavras que querem sintetizar novas linhas e concepção mecânica diferente da utilizada no VW. Motor e tração dianteiros, suspensão independente por sistema McPherson, carroceria autoportante, linhas modernas, economia, rendimento, potência específica razoável, segurança, performance.
Concluíram que um automóvel nestas condições fugia inteiramente do padrão VW, e uma breve olhada a uma de suas associadas, a Audi, trouxe a solução. O carro que vestia esta descrição estava próximo, em Ingolstadt. Era o Audi 80, considerado o melhor sedã pequeno do mundo, láurea invejável.
A situação de vendas da VW experimentava um crescimento vegetativo, mas as estatísticas de venda da Variant e do TL, demonstravam que na Alemanha e no Mercado Comum Europeu, as vendas destes modelos experimentavam um decréscimo bem sensível e a sua fabricação já se tornava antieconômica, assim como a sua preparação para exportação ao mercado americano.
A suspensão da produção destes veículos deixaria um vazio na grande fábrica de Wolfsburg, como também na de Hanover, onde são produzidos os motores, urgia pois, a substituição do TL e da Variant por um modelo mais comerciável. Mas tomar subitamente um produto conhecido como Audi, sucessor dos Auto Union (o equivalente do Vemag nacional), e montá-lo sob a denominação de Volkswagen, substituindo apenas as argolas olímpicas – logotipo da Audi – pelo VW, não funcionaria.
Um outro expediente, que possibilitasse a exploração publicitária e o surgimento de um novo veículo teria que ser montado, ainda que o produto fosse inteiramente diferente dos conhecidos VW.
A ideia foi simples, prática e funcional como tudo que é alemão. Ela chamou o Giugiaro, dono da Italdesign, estilista da Alfa e da Lancia, e entregou-lhe o Audi 80 com a incumbência de receber – em troca de muitos marcos, porque o europeu agora quer distância dos dólares – um protótipo que não se identificasse com a base do projeto, mas ao mesmo tempo, não perdesse as características e ainda pudesse usar o logotipo VW, como um novo produto que surgisse no mercado. E como na passagem bíblica, no princípio era o Audi 80, mas logo em seguida, fez-se o Passat.
Fiat Lux
Embora a piece de sustentation da Volks ainda seja o besouro e seus derivados, o Passat se constitui em um importante produto dentro da organização, em proporção que tende a crescer no Brasil, encarregado de produzir o suficiente para exportar 500 conjuntos de motor e câmbio diariamente, e ainda, suprir o mercado interno em uma expansão invejável. A mudança de características, a fórmula encontrada na base do faça-se a luz, não significa que o vôo do besouro esteja terminado. Mas pelo menos demonstra que a fórmula começa a ser mudada.
Para a Volkswagen alemã, o lançamento do Passat – dizem que a denominação será esta porque soa latinamente, embora não traduza nada para o brasileiro – em terras tupis é importante.
Não só porque o Brasil ocupa posição ímpar de desenvolvimento econômico, como também porque a produção encontra guarida na preocupação e amparo governamentais, mas também principalmente porque nosso país ocupa excelente posição de desenvolvimento interno e apresenta um índice de venda percentual de Volkswagens em relação a produção global, altamente invejável.
E em se partindo que este é um mercado de consumo interno em expansão e local ideal para exportação, as injeções de investimentos visam a dar ao novo produto, força suficiente para vender o bastante que garanta por muito tempo a liderança da VW.
Do Passat
Posto que a Vokswagen levou alguns jornalistas nacionais à Alemanha sob o rótulo de viagem de observação mas que na verdade se constituiu sutilmente em um pré-lançamento do Passat aos maiores curiosos do assunto lá reunidos e assentado que a verba de publicidade que a VW vai utilizar de maio a dezembro de 1974 é maior que a verba de todos os produtos Ford reunidos, dá para prever suas intenções de conquista. Para tanto, ao leitor, um pouco de Passat, em doses semanais.