30 anos do fim da produção do Passat

Este artigo estava programado pra ser publicado ontem, porém diversos compromissos e imprevistos impediram que isso acontecesse. De qualquer maneira, a Home-Page do Passat não poderia ignorar um fato importante da história automobilística brasileira: neste domingo, dia 2 de dezembro de 2018, foram completados 30 anos do fim da produção do Passat.

Já falamos sobre isso algumas vezes por aqui. A última delas no aniversário de 28 anos do fim, quando comentamos sobre uma matéria exibida pelo Jornal Nacional informando sobre o fato (clique aqui para relembrar). No mesmo post do nosso blog, lembramos também do último teste do Passat na revista Quatro Rodas, que acabou sendo uma homenagem ao modelo, recheada de elogios e comparações positivas com outros carros da própria VW.

Matéria do Jornal Nacional mostrando o fim da produção do Passat. Fonte: CEDOC / TV Globo
Matéria do Jornal Nacional mostrando o fim da produção do Passat. Fonte: CEDOC / TV Globo

   

A imprensa já vinha comunicando o possível fim da produção do Passat ao longo de 1988. O fato era considerado importante, não apenas pela história do modelo no Brasil, tendo feito parte de tantas famílias e também ter sido um divisor de águas dentro da filial brasileira da montadora alemã, mas também pelo fato de ter sido até então um dos melhores, senão o melhor, produto de exportação da Volkswagen nos anos 80. Principalmente, claro, pelo contrato com o Iraque, que foi um fator essencial que garantiu ao Passat mais alguns anos de produção.

No dia 29 de julho de 1988, o jornal O Globo trazia a matéria “VW pode tirar o Passat de linha”. O artigo apresentava um resumido histórico da produção do modelo, que chegou a representar 12,1% do mercado interno em 1979, mas que naquele momento tinha uma pequena fatia de 1,1% do mercado, com apenas 2.694 unidades vendidas no primeiro semestre daquele ano, representando uma queda de 53% em relação ao mesmo período de 1987.

Outro ponto da matéria informava que as exportações para o Iraque haviam sido interrompidas em maio daquele ano, “por causa da defasagem cambial automobilística”. Até então, o Passat registrava 7.625 unidades exportadas em 1988, sendo 7.337 para o Iraque e 288, desmontadas, para o Uruguai, país que recebeu o Passat por muitos anos e onde ainda encontramos alguns exemplares e, ocasionalmente, trazemos para o blog.

O texto trazia ainda a informação de que o então presidente da Volkswagen no Brasil, Wolfgang Sauer, esteve no Iraque no início de julho mas ainda não havia notícias sobre um possível novo contrato de exportação com aquele país, levando a possibilidade do fim da produção do Passat.

O Globo, 29 de julho de 1988.
O Globo, 29 de julho de 1988.

   

Vamos lembrar que a Volkswagen já havia a tempos mudado sua estratégia com relação ao Passat, o que colocava esta linha em desvantagem em relação a outros modelos da própria marca, de produção mais recente e que poderiam sofrer concorrência do modelo: mais especificamente o Voyage e o Santana. A conhecida falta de acessórios opcionais que começavam a ser exigidos pelos consumidores no fim dos anos 80, como vidros elétricos e direção hidráulica, que poderiam ser encontrados em modelos concorrentes, dentro e fora da VW, foi um dos fatores que ajudou o Passat a entrar no limbo do mercado.

Outro ponto menos comentado é que aos poucos o Passat, que chegou a ter 7 versões disponíveis para o consumidor nos anos de 1978 e 1984 (incluímos aí as séries especiais, como o Passat 4M e o Passat Plus), possibilitando tanto um Passat básico de 2 portas, passando por modelos mais familiares de 3 portas e bom acabamento, até um modelo luxuoso de 4 portas com ar condicionado ou um esportivo como os TS e GTS Pointer, foi perdendo opções e se resumiu a nada menos que duas versões em 1988: o Passat GL Village e o Passat GTS Pointer.

Não podemos esquecer que a pouca variedade de opções, para atender a diferentes necessidades do consumidor, em um nicho de mercado com bastante concorrência pode acabar influenciando negativamente as vendas de um modelo. Podemos citar, como justificativa a este argumento, as boas vendas que o Passat LSE “Iraque” teve em 1986 e 1987, quando a linha Passat começava a perder opções (já não mais havia as carrocerias de 3 e 4 portas, por exemplo).

O próprio Gol, em seus anos recentes de glória, seguia este caminho: possuía desde a opção básica que poderia ser utilizada para serviços até uma versão esportiva ou uma mais comportada porém bem completa de equipamentos, além de frequentes séries especiais. Mesmo para quem quisesse comprar um Passat 0km no seu último ano de produção, essa tarefa não era das mais fáceis: recordando mais uma vez o teste da Quatro Rodas em abril daquele ano, encontrar um Passat 0km em uma concessionária da marca era raro. Com isso, o consumidor encontrava mais um motivo para migrar para outros modelos.

  

Não é questão aqui de tornar a VW uma vilã. Afinal, as montadoras precisam traçar uma estratégia para manter a competitividade dentro das categorias em que ela atua. E isso não sofre influências da paixão sobre determinado modelo como nós, entusiastas, algumas vezes achamos que deveria sofrer.

O fato é que no final daquele mesmo ano a profecia de diversas publicações se concretizava: no dia 2 de dezembro, os últimos Passat eram produzidos. O Jornal do Brasil trazia, dias depois, em 10 de dezembro, a notícia: “Volks aposenta o Passat”, com a foto de divulgação de um modelo LSE “Iraque” de 1985, que oficialmente nem tivemos por aqui, fora os que ficaram no país após terem sido usados como carros de frota da montadora ou vendidos a funcionários.

A matéria trazia como justificativa da VW, além das baixas vendas, “o desenvolvimento tecnológico da indústria automotiva”. O texto do Jornal do Brasil não esqueceu de falar dos avanços que o Passat trouxe para a Volkswagen do Brasil (e, em alguns pontos, para o mercado interno em geral), como a refrigeração a água, o circuito independente de freios em diagonal, direção retrátil, entre outros. E lembrou também que foi um dos veículos preferidos pelos pilotos em competições de turismo e rallyes.

Jornal do Brasil, 10 de dezembro de 1988.
Jornal do Brasil, 10 de dezembro de 1988.

   

O Passat terminava o ano de 1988 com uma média de apenas 359 unidades vendidas mensalmente. Isso significava uma proporção de 5 Passat para cada 80 Gol vendidos ou 8 Passat para cada 81 Voyage. Um fim discreto para um carro que deixou saudades em cada um dos 676.887 proprietários dos Passat vendidos durante seus 14 anos de produção.

Há 30 anos, o último Passat deixava a linha de montagem para ocupar uma das páginas mais importantes da história da indústria automobilística brasileira. Uma página que tentamos na medida do possível, desde 1996 aqui na Home-Page do Passat, manter disponível e cada vez mais completa para que antigos e novos entusiastas do modelo possam manter viva essa história.

2 comentários

  1. C’est une grande perte pour le Brésil et nous aussi ici en Algérie.
    La Passât do Brasil à fait ses preuves chez nous, elle fut très agréable à conduire et fiable par tout les temps.

  2. Muito boa materia. Foi um carro lançado em plena decada de 70 e que foi descontinuado no finalzinho dos anos 80. Em 87 ja era um carro de muito sucesso, um marco para modelos mais novos e um classico para os tempos pós 2000. Valeu vw

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